digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

segunda-feira, julho 21, 2014

Na frente da casa há um jardim francês com buchos e labirintos

Não te quero perder nem tampouco ver-te voar sozinha num balão de ar quente com o rosto iluminado, numa viagem curta para tanta saudade.
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Não te quero perder e quero um jardim, onde te possa encontrar nas brincadeiras infantis de quem ama muito.
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Uma casa muito grande para no Inverno jogar às escondidas.
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O jardim desenho-o e nele árvores de nós. Não vão crescer, nascerão crescidas, para que dêem logo sombra e perfume.
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A água e o seu palrar refrescante. Aos mouros copio os com regatos falsos em tijoleira e azulejos ricos de azuis, verdes e brancos.
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Como um sultão, tu como a única odalisca do harém.
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Melhor do que regatos, um dédalo a indicar caminhos para todas as partes.
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Relvado bravio e suas flores. Para os dias melancólicos um prado de muitas pétalas de cultivo.
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Uma ilha cercada largo. Será que um rio cabe num jardim? Cabe neste meu sonhar. Nela ciprestes e uma casa aberta à volta, onde os corpos se deitam para fazerem amor e depois suspirar comendo frutas do pomar.
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Sem mais ninguém, apenas nós. Recantos de bosques e neles esconderijos onde os corpos se deitam para fazer amor e depois suspirar comendo frutas do pomar.
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Ainda que plano e levemente ondulado, o jardim terá fontes e numa brotará de água quente para lembrar termas. Todas limpas e brilhantes, como os teus olhos verdes.
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Um pavilhão grande, cruzado pelos caneiros mansos de água a cantar ladainhas. Paredes de cortinas brancas, ondulando para que luz e penumbra enfeitem água e azulejos. Nele, deitados faremos amor e depois suspiraremos comendo frutas do pomar.
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Que árvores na floresta? Tem mesmo de passar um rio, doutra forma os salgueiros viveriam tristes, provavelmente raquíticos de sede.
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Na ilha só ciprestes, com suas sombras finas e verde heráldico. Ciprestes só na ilha, para que outras possam ter espaço para graçar.
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Uma floresta misturada onde árvores e ervas têm sítio certo.
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Vou cansar-me de dizer... não direi, são muitas. Acho que não falta nenhum que na nossa terra viva, assim como as ervas.
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Trevos e neles os da sorte. Erva-moura, claro. Heras para estragarem as paredes da casa. Umbigos-de-vénus, claro. Erva-abelha, claro.
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Parece o Paraíso e com amor tão grande até cabem urtigas, erva-da-inveja, viperina, erva-mosca, erva-vespa e os perigosos medronheiros. Sem medo, que haja figueiras-do-demónio, que aqui ninguém acredita que o estramónio sirva o triste Diabo.
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Figueiras-da-índia para picar os dedos, figueiras de toda a espécie – convencido que possa ter sido uma figueira a Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal.
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No pomar, as amigas macieiras e pereiras. As pecaminosas ginjeiras e cerejeiras. Marmeleiros para doces de Inverno. Romaneiras que para fazerem filhos às laranjeiras, e ainda limoeiros e muitos citrinos.
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Videiras de bago grande. Videiras de vinho, claro – alguém há-de apanhar a fruta e fazer o vinho que se beberá à sombra nos calores e no resguardo do tempo do frio. As videiras se fossem árvores seriam a Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal.
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Um olival antigo e secular, árvores tão mais largas do que um abraço. As oliveiras da paz. Algumas até viram Cristo.
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Uma árvore de Natal.
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Pássaros a fugir de gatos que fogem de cães. Cantam e outros não mordem, só brincam.
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Não é muito para alegria, redes de balanço e preguiça.
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Jardim de florestas onde os corpos se deitam para fazer amor e depois suspirar comendo frutas do pomar.
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Floresta de fruteiras onde os corpos colhem a saciação que o amor pedir.
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Quero por lá perder-te para te poder encontrar. Para nos deitarmos a fazer amor e suspirar.
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Nota: Este trabalho anónimo faz parte da Colecção Real de Pinturas de Jodhpur, do Museu de Mehrangarh – Índia. Trata-se dum conjunto de obras executadas entre os séculos XVII e XIX, estando esta datada de 1830. A imagem que encabeça o poema é um pormenor da obra em que Jallandharnath e a princesa Padmini voam sobre o palácio do rei Padam.
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