Há pessoas que não saem do tempo. Estão num momento e que
passem as décadas.
.
Que idade se tem aos quinze anos?
.
A Joana era miúda, tão mais miúda...
.
Nove meses mais miúda.
.
Escrevi-lhe poemas e prosas. Provavelmente pirosos...
.
Naturalmente pirosos.
.
Não sabia que a seduzia...
.
Que idade se tem aos quinze anos?
.
Ele tão nobre afastou-se, fiquei aflito
.
Como explicar que não era verdade o que ele pensava, embora
fosse verdade o que eu fazia e que fazia sem querer e sem pensar, e sem saber o
que ela pensava atrás do sorriso e do olhar
.
Joana, a minha musa
.
Talvez a primeira. Quando penso em musa, penso na Joana,
porque não a amei, apenas tive a proximidade para fazer o que não fiz.
.
Houve musas que adoeceram e depressa se morreram e depressa
as enterrei num baldio onde não voltei.
.
Joana, a minha musa – dos poemas frente ao Tejo
.
Tágide de olhos tão castanhos inquietadores
.
Doces, como quase todos aos catorze anos.
.
Vivos a vida toda. Não é verdade?
.
Éramos crianças e aos quinze anos pode poemar-se livremente
.
Tágide reaparecida – nunca esquecida, perene na memória –
por causa dum gato
.
Arreliado o gato, arranhou-me e poemo-te
.
Ao ver-te no feicebuque sei a inquietude dos olhos, o quase
tremor dos lábios e o sorriso de rapazola
.
Desaparecida sem sair do lugar, tão mais nova onze meses,
catraia bonita como uma gata
.
Houve musas que morreram-me. Matei-as, morreram. Mataram-me,
morri.
.
Tu não, Joana
.
Estás onde nos deixámos, crianças de catorze e quinze anos
.
Jamais terás outra idade
.
Serás sempre musa, mesmo que te não escreva.
.
.
.
Nota: Dedicado à Joana Villaverde, autora deste magnífico gato.
Sem comentários:
Enviar um comentário