digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

sábado, junho 07, 2014

Para sempre musa

Há pessoas que não saem do tempo. Estão num momento e que passem as décadas.
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Que idade se tem aos quinze anos?
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A Joana era miúda, tão mais miúda...
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Nove meses mais miúda.
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Escrevi-lhe poemas e prosas. Provavelmente pirosos...
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Naturalmente pirosos.
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Não sabia que a seduzia...
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Que idade se tem aos quinze anos?
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Ele tão nobre afastou-se, fiquei aflito
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Como explicar que não era verdade o que ele pensava, embora fosse verdade o que eu fazia e que fazia sem querer e sem pensar, e sem saber o que ela pensava atrás do sorriso e do olhar
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Joana, a minha musa
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Talvez a primeira. Quando penso em musa, penso na Joana, porque não a amei, apenas tive a proximidade para fazer o que não fiz.
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Houve musas que adoeceram e depressa se morreram e depressa as enterrei num baldio onde não voltei.
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Joana, a minha musa – dos poemas frente ao Tejo
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Tágide de olhos tão castanhos inquietadores
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Doces, como quase todos aos catorze anos.
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Vivos a vida toda. Não é verdade?
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Éramos crianças e aos quinze anos pode poemar-se livremente
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Tágide reaparecida – nunca esquecida, perene na memória – por causa dum gato
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Arreliado o gato, arranhou-me e poemo-te
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Ao ver-te no feicebuque sei a inquietude dos olhos, o quase tremor dos lábios e o sorriso de rapazola
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Desaparecida sem sair do lugar, tão mais nova onze meses, catraia bonita como uma gata
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Houve musas que morreram-me. Matei-as, morreram. Mataram-me, morri.
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Tu não, Joana
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Estás onde nos deixámos, crianças de catorze e quinze anos
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Jamais terás outra idade
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Serás sempre musa, mesmo que te não escreva.
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Nota: Dedicado à Joana Villaverde, autora deste magnífico gato.

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