digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

domingo, junho 29, 2014

Cardo

O  dia do regresso, invisível e insonoro, sem bater para entrar e pronto agarra e espreme o que tenho de mais cansado e frágil. Surge como um morto reerguido da campa que num local aguarda. Não é espírito, digo zumbi.
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Aterrado nem desfaleço nem fujo nem me agarra nem diz nada. Aperta-me o coração a estrangular-me e desfaleço por impossibilidade de morrer. Adormeço cainte, e cainte tento erguer-me e volto a cair. O meu sono de farrapos, em terra de ninguém, um tabuleiro de xadrez, perdido sem viver vivalma. Fraquejando das pernas tentando andar, até ao deitado frágil impotente para mover.
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O tempo das perguntas passou. Não passou a incompreensão. Sei da morte e do desejo, não percebo a ferida que se reabre porque sim. Hoje não é dia para chorar, é de tédio, um dia sem horas. Sem horas é muito mais do que muitas horas, com começo e sem fim, em que cada hora dormida é um pesadelo e outra hora acordado é um pesadelo.
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Solidão talvez um pouco, a solidão é como o sal. Hábito e ora bem e ora mal. Se fosse simples e óbvio. Como dói e limpei a dor com o coração e agora espremido não sente nada além da dor. Cria que era da cabeça e também é.
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Não tenho securas na boca, tenho um amargor dum sinal de vida. Não sinto a jugular nem tenho tigre para a usar. O mal está na ficantura.
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Quando se tem a mala e a vontade aviadas para partir e frente ao bus viajante se deixa que se parta uma e uma e uma e uma e uma... vez. Não são vezes, são muitas uma vez. Inconseguir partir e inconseguir ficar.
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O meu sonho, o que quero agora mesmo, assim de repente?... Não estar não me basta e porque sei que se não estiver, estarei noutro lugar. Não ser. Ser ou não ser não é uma questão é um castigo. Quendera poder desexistir.
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Vou para de escrever. Como um franciscano de deita de braços abertos frente ao altar do Senhor, despejo-me onde tiver espaço e ficarei anestesiando-me com a temperatura do chão e com as vidas abaixo e acima da casa.
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Depois logo se vê.

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