Não tenho vergonha de dizer a um amigo que o amo. Digo-lhe
baixinho, ao pé de gente, grito no Rossio, digo em família, entre amigos entre
quem acabo de conhecer.
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Amar é sublime. Ainda que as dores sejam rios. Da inofensiva
nascente, à força da largura, à traiçoeira fundura. Do curso abrupto e rodopio confuso. Da maturidade à foz. À maturidade do oceano.
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Não morrerei se um amigo morrer. Nem morrerei se morrer
antes dele. Amá-lo-ei até à inexistência. Esperarei por ele como ele por mim. Mesmo
que a vida tenha um fim...
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Perder um amigo, por qualquer coisa, é um bocadinho desexistência,
uma mão de nada que se tira ao universo.
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No momento da tristeza, mesmo que só se tenha morrido um
bocadinho, sabemos mesmo que gostamos.
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Não há raiva que derrote amor. Nem que passando mil anos.
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Digo com a certeza do ricochete das palavras. Digo com o
infinito eco das palavras. Digo com a imortalidade das palavras. Digo com a
certeza do arquivo da memória, seus esconderijos, refúgios, lixos, arrumações e
cicatrizes. Digo com os bumerangues e os maremotos. Digo abraço, com lágrimas, seco, soluço, , arrependimento, consolo, festa.
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No amor, as pedras são flores. Com e mãos dóceis, campo, jarra, lapela, mundo em qualquer parte. Se atiradas caem. As
pedras doem. Se uma flor se tornar pedra, a flor tornará; que sejam precisos mil anos. E as flores são o que se quiser de bem.
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Amo-te e beijo-te, amigo, irmão, pai doutros sangues.
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Digo com a certeza da gravidade. Com gravidade digo erro. Com a certeza da gravidade digo infinito e já agora. Deus. Amor. Amigo.
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Digo com as flores brancas das palavras amigas. Digo com qualquer cor,que te amo. Do baixinho ao
eco.
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Digo a toda a gente!
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Digo:
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Amo-te, amigo.
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Sem ti não morria, mas desexistia um bocadinho.
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Nota: a V.
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