Sim, nua. Não te consigo ver sem ser nua. Sentada,
conversando. Sendo e sendo sempre nua. Nunca objecto, mas mandante do prazer
obrigatório que duas pessoas têm de ter quando partilham, no mesmo tempo, lugar
e nudez.
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Nudez. A nudez é um conceito estranho. Nascemos nus e nus nos
vestem já mortos. Só vivos, com vida, vida suficiente para dar vida ou vida
suficiente para se pensar que se pode dar vida, estamos nus.
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Naufragar contigo numa ilha remota tem a graça de
algodão-doce. Tocar as mãos nos cinema, em segredo é patético como fingir que
se tem um almoço de trabalho numa pizaria.
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Sonho suburbano. Mediocridade que faz acordar enjoado.
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Não te quero mostrar nem que me mostres. Quero tanto que me
vejam como não vejam. Quero beijar e amar. Que fiques a fumar enquanto bebo uma
cerveja. Ou que vás à casa de banho enquanto acabo com a última garrafa dum gin
imprestável.
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O cheiro do sexo. Dum e doutro. Doutronum e doutro e um num
sem ser um nem outro. E, claro, suor e sede. Tesão, sim. E o tempo que foge.
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No final, outra queca. Ou então, dormir. Para outra queca. Meter
as chaves no Mercedes suburbano, deixar-te a duzentos metros de casa ou
deixares-me ao pé da paragem do metro, que nem passa à minha porta ou
fazcaminho.
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Descartável prazer em ser descartável e imprescindível.
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No caminho, já sós, dois ou três orgasmos egoístas e
aflitos. Com remorsos de não ter remorsos.
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