digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

terça-feira, janeiro 15, 2013

Da janela


























O cinzento-lilás do céu e o verde-clorofila da placa luminosa do hotel. A janela sobre a rua de carros e o frio que nela embate.
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Sim, o coração salta e o tédio anseia o que não quer para amanhã; acordar cedo para trabalhar. Pudesse o tédio ser ócio e a vida só abundância.
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Habituado a uma rua de bairro, vivo junto ao movimento constante acelerado, numa rua quase suburbana e no centro. O que gostava mais na outra casa era o bairro. Neste bairro gosto mais da casa.
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Neste Inverno: Madeira doce. Tão desejável que não me imagino a beber outra coisa no Verão. Figo seco, amêndoa, noz, caramelizado, finíssima canela e um fio quase invisível de pimenta preta. Digo: Há algo mais maravilhoso do que um Madeira doce?
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As gatas, feridas no mimo, e o cão, que às vezes se julga gato, tem ciúmes das irmãs felinas. Já lhes ladra menos, mas elas sopram-lhe. Hão de se dar bem. Que assim seja! Que Deus o queira! E que haja sempre Madeira doce.
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Por baixo do quarto há um vizinho que ressona fragante. O que diriam os de cima se dormissem sobre o meu quarto. Esses, doutores em palermice, acordam e deitam-se e nada mais fazem do que existir, entre a imbecilidade, a mediocridade e a imbecilidade.
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Quero ver o céu no Verão. Se ainda aqui estiver e com o coração apertado de afecto e descoberta. Se não estiver, que tenha o peito como agora.
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Por agora contemplo o céu cinzento-lilás e acalmo-me e contenho-me, para que tome um outro cálice de Madeira doce.

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