Nos locais deslumbre, as conversas importantes. As linhas
impressas, as salas do fumo. O vinho e o uísque. Frente à secretária, ao
telefone. Pensando que não partiria. Que se partisse não voltava. Uma bicicleta
só de subir e o amor. Muito amor que era sexo e um amor que era cego. Tudo o
que poderia ter sido.
.
Já me ri de fumar. Já me arrependi. Já dei graças a Deus. Já
me esqueci de dar. O que julgava saber e o que não sabia que não sabia. Depois de
adivinhar o futuro nas mãos li a vida nas cartas. Nunca me cheguei a
arrepender. Nem o medo. Tudo o que fui.
.
Andei à chuva em dias de sol. Abriguei-me em solidão junto
ao mar, e não fui. Sepultei-me e ressuscitei morto. Chorei de amor e chorei de
mim. Desejei ser canalha. Quis uma vida banal. Renasci sonhos grandes. Bati com
os dentes na realidade. Deitei-me atrasado. Dormi adiantado e eterno. Desejei apenas
dormir. Tudo o que tenho sido.
.
Se o amor não falta, sobra a dor rija. Não levo a vida para
frente. Não volto atrás. Peço que a parede não me esmague devagar. Volto aos
locais antigos. Como nunca soubesse que haveria de voltar. Ainda não sei se
quero. Recordo as músicas e evoco as noites. Evoco caras. Choro as esperanças e
angustio-me nas desilusões. Batem-me na memória frases dolorosas e coisas de
que me envergonho. Tudo o que sou.
.
Atrás dos tempos vêm tempos. Da tristeza à esperança. Da
desesperança nada sobra para andar. De joelhos inconformado, impotente, quase
morto. O que tenho de ser.
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