digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

sexta-feira, agosto 24, 2012

Martini


Tomo um Martini Extra Dry com sumo de maçã, um terço para dois.
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Não tomo conta de mim e deito-me a pensar na ausência, até que os olhos desistam de estar fechados e acordados.
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As gatas estão, duas, aos pés da cama e outra por aí, numa cadeira ou no sofá. Deram-me cabo do forro das cadeiras.
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No outro dia joguei às cartas. Esta noite sonhei que jogava, mas atrapalhava-me e o meu pai zangava-se. Mais ninguém sabe jogar canasta.
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Está calor. Todas as manhãs acordo suado e a fronha molhada tem um cheiro enjoativo. Tomo um banho e mudo-as.
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Acordo depois de desistir de dormir. Não como e tomo os comprimidos que me tornam invulnerável. Bebo sumo de laranja ou de maçã. Vou à rua e tomo o único café que o doutor deixa. Tomarei mais três ou quatro, não me chateiem.
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A manhã tem tédios. A tarde tem tédios. Tenho mãe e por vezes paciência.  A noite tem tédios e sono ou rebeldia. No computador há pornografia e ternura, mas quase todo o dia só tem tédio.
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Como o que há. O que não há faz-me mal ao colesterol. Consigo na ausência.
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Tomo um Martini Rosso com sumo de laranja, um terço para dois.
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Não sei tomar conta de mim, disse a doutora. Sei lá se sei… tenho de fazer dieta, disse a outra doutora. Tenho de fazer dieta, diz a mãe. Tenho, digo na ausência. Não faço.
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Não faço a amor, suo tédio. Abraço as almofadas enganando a ausência, como fazem todos os tristes. Sonho com cidades.
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As gatas deixam tudo. A Granita só não gosta que a festeje com os pés. À vez derretem-se, em miados e torrinhas. Há sempre uma. Há sempre quem me salve a vida.
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O tédio e a ausência, o esquecimento e o escuro. Não tenho medo, tenho dor. Mais um dia. Não tarda, o fim do ano e um novo para alimentar o tédio duma vida vazia.
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Tomo um Martini Bianco com sumo de limão, um terço para dois.
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Não tomo conta de mim, mas gosto de tomar de ti. Sem ausência, o amor é mágico.

2 comentários:

me disse...

Já cá não vinha HÁ MUITO TEMPO e nem sei bem o porquê disso, mas hoje lembrei-me e depois de "te"(re) ler...percebi que não vinha aqui há tempo demais! Obrigada!

João Barbosa disse...

obrigado pela tua visita e palavras. a casa é tua.