Amo-te até inventarem melhor palavra. Desenho dias à janela,
aguarelo alguns e outras vezes apenas olho debruçado a rua.
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Às vezes estás em casa e ficamos fechados um no outro. Tenho
a janela aberta quando não estás. Com os olhos esticados na luz de Lisboa e a
esperança no parapeito. O canto mudo do telefone angustia-me.
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Não gosto de falar ao telefone. Deito-me à tarde, desejoso
que as horas tenham Sol e a nostalgia chuva. Não oiço música, mas deixo aberta
a porta da varanda para ver a cortina mexer-se e para deixar que o mundo da rua
pense que sou normal, que uso t-shirts e calças claras. Na verdade ando descalço.
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O Verão não chega a ser silencioso. O Sol pede azul da água
e o vento algum sal. Não consigo que as aguarelas tenham o azul português. Mas consigo
olvidar a nostalgia.
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Ainda não consegui inventar uma palavra só tua. Durmo com a
ideia do dia novo e sinto o passar das horas planas e pálido ruído na rua.
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Na falta de férias, o Verão de Lisboa e seu azul celeste,
que é denso e forte. Na falta de férias, a solidão morna e o lamento de ainda
não te ter inventado uma palavra. Se ao menos te soubesse desenhar.
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Em azul, as três gatas são três luzes. O telefone não toca. Felizmente
há quase ruído. Passam mornas, as horas, até que seja Outono.
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Vou deitar-me com a porta da varanda aberta, como um feliz solitário. Na boca a doce vontade de te saber desenhar, vestido e com os pés nus. Não cheira a flores.
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