digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

terça-feira, maio 22, 2012

Hoje bebemos uma cerveja no Estádio

Uma coisa que tenho aprendido a apreciar é a bondade. Não a coerência duma vida ou a verticalidade orgulhosa, mas a bondade. Há pessoas que têm nos olhos a alma sem que por isso sejam uma boa alma. Não me refiro a sentimentalismos, mas a índole. Conheço o João há quase trinta anos e hoje vai a cremar. Não sou o melhor amigo, mas conheço-o e sempre o conheci bom. Não é porque o corpo morreu que ele é bom, mas porque o foi sem nunca se ter feito ver por santo. Lembro-me da frenética calma, que é a forma menos óbvia de não se ter calma. Não lhe conheço má-língua sem ser num lamento. Não me lembro dum lamento sem uma razão. Sempre honesto e íntegro. O João é boa pessoa. Eu, que não sou íntimo, sei do esforço que fez, antes de abandonar o corpo, em tratar dos pais. A sua gesta é prova, no mínimo, de gratidão. O corpo do João queima-se numa máquina, mas a bondade fica com quem o conhece, que só guarda boas memórias.

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