digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

sexta-feira, novembro 25, 2011

Se houvesse um rio



Se fosse só um nó na barriga… é um novelo, que roda, se enleia, desceu pela goela e agonia.
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Está frio, suficiente. De tronco nu, destapado, estendido na cama, os ombros queixam-se.
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A cabeça pesa, como que com febre. As pálpebras pesam, como que com febre. As pernas fraquejam, como que com febre.
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Sei que vivo, porque sinto nos pulsos o pulsar. O sangue que quer sair, cavalgante.
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Vencido pela vida, espero ganhar o direito à morte.
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Tivesse fé, a que anima e ressuscita… tivesse fé, mas só tenho verdade concreta. Coração em cofre de betão-armado.
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Ansiedade de cobre electrificado. Cabeça em fusão. Coração com vontade de se livrar.
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Tudo em convulsão. Em desagregação, por dentro e por fora. As estruturas têm fissuras e a cúpula não levita. Os vitrais quebram-se. Eu, que sou eu, sou isso tudo, estou dentro deste cofre… desabando sobre mim.
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Se chovesse, podia criar-se um rio e eu ir com ele. Tomara que chova.
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No momento seguinte a escrever as seguintes palavras, desmaio desejando que seja amanhã, vinte anos depois…
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Engulo em seco o fio do novelo, rezo para que o cofre em betão ceda e que a razão me deixe ter um Deus.

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