Ela era a rapariga mais bonita lá do sítio. Não me ligava e
imaginava-a a olhar, despindo-se e beijando-me. Brincava jogos de menina,
saltava à corda e ao eixo. Só queria ver a rapariga nua, mas não tinha idade
para mais do que para jogar ao pião. Nela já se notavam os seios e o rosto
deixava a infância. Ela era uma rapariga e eu ainda puto. Deixámo-nos de nos
ver. A rapariga tornou-se mulher e eu de puto passei a rapaz, de rapaz a
homem inconsciente, a presumível respeitável, a maduro. Os homens demoram
sempre mais tempo a serem adultos. Talvez por isso as mulheres envelheçam e os
homens ganhem charme. Volta e meia sonho com essa rapariga de pernas delgadas
que quando saltava, deixando ver um pouco mais acima, me fazia deixar de ser
puto e querer ser qualquer coisa que julgava ser graúdo. Em sonhos a rapariga e
eu não crescemos e penso o que teria sido de nós se tivéssemos a mesma idade.
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