Não são páginas em branco, mas de insuportável
transparência. As letras escorregam ou desfazem-se em intersecções desajeitadas…
quase suicidárias, se tivessem vista, meditação e coragem e vontade.
.
A transparência das páginas não fixa ideias. Mais concreta
do que a ideia e fugaz na escrita.
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As palavras são, por natureza, negras. As de tinta são negras
e no ecrã vêem-se negras. Esqueçamos as de outras cores, subprodutos
alfabéticos. As palavras, as letras, a pontuação são negras. Como desmaiam na
transparência das folhas!...
.
Como uma vidraça… límpida, baça ou translúcida… folhas sem
espessura, sem dimensão, sem cor. É mais doloroso escrever assim: sem ver,
forçando a vista, de incerteza crescente, de tempo prolongado no travo que de
intenso passa a enjoativo e a vómito… a dúvida chega e volta ao princípio. Folha
transparente.
.
As ideias são livres e agora… Um descalabro, uma incerteza,
angústia, desilusão e loucura.
.
Que fazer com esta ausência? Que poderei escrever? Deito-me
esperando estar já a sonhar. Que esteja a sonhar com o pesadelo e que amanhã
acorde com a síndrome da folha em branco. Espaço suficiente para algumas
palavras. Negras, certamente.
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