digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

segunda-feira, maio 09, 2011

Voar no trapézio

Levantar-te até onde os meus braços alcançam e lá voar num trapézio.
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Pretexto para te segurar as mãos e a cintura. E no aperto do breve voo fazer amor.
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Em voo, mas sexo de anjos, não. Inteiro amor de busca, retribuição e promessa nunca esquecida.
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Se o teu lado melhor é invisível, conto-me com o que posso sentir com a carne.
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Não és nem princesa nem fada. Para mim, que desejo ser poeta, é coisa para um beijo.
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O unir das bocas não é menos amor do que a penetração que desejo. Não me contento, mas chorarei menos a recusa.
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Contigo tenho contas antigas por saldar. Lembradas na revelação do nascimento de Vénus.
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Imagino-te toda em luz, despindo-te em magia. Em transparência. Diante dos meus olhos em encantamento.
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Êxtase ao ver-te entrar a porta. Se algum dia a passares. Um unir dos lábios não é menos amor que a penetração que desejo.
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Dívida contraída num tempo antigo. Só posta em frente na anunciação da tua voz. Afinal existes.
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Tanto tempo tão longe.
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Quendera ter a liberdade de te amar. Incondicionalmente. Quendera ter a liberdade de te amar. Só por umas noites. Quendera, quendera…
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Quendera recusar-te em amor racional. Salto contido na vertigem do precipício. Recusar-te pelo medo de te amar. Recusar-te por medo de me recusares.
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Ao rever-te a luz senti as peles tocando-se. Imaginando os perfumes dos nossos corpos suados. Dos teus dedos em mim. E de mim em ti.
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Adormeço a pensar nas palavras que te direi ao acordar. Digo-tas antes que seja manhã. Medo de morrer sem tas dizer.
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Acordo a pensar o que te de novo posso escrever. A tua luz diz-me as palavras, letra a letra.
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Confesso que estou adolescendo, na esperança de ainda hoje me dares o prazer da tua palavra.
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Amar-te não como mãe, mas como igual no desejo. Querer ter toda a ternura, quase a que se tem pela mãe.
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Amar-te e dar-te o beijo mais longo dado no cinema. E o mais longo dado num cinema.
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Ficar lado a lado, deitados em lençóis amarfanhados, em silêncios e palavras. O tempo perdido e o ganho na aparição… e ainda tão recente.
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Ainda não mandei vir de Edimburgo o coração. Mas já mandei a chave do cofre de vidro, que outrora foi caixão da Bela Adormecida.
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O coração sei que virá quando sentir que o buraco que deixou em mim voltou a pulsar.
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Quendera fazer amor contigo a voar num trapézio. Dar-me no medo da queda, destemento a dor da queda.
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Quendera me aceites. Quendera me recuses. Agora és tudo em mim.

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