digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

sábado, maio 14, 2011

Um dia assim





















O morto ainda respira, acto involuntário e inconsciente. A cabeça há muito que curtocircuitou e as mãos caídas de derrota e desalento deixaram de ter outra função que estarem caídas e desalentadas. A força da gravidade é quase tão forte quanto a da vontade de dela tirar partido. Voo com vontade, de não ficar.
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O morto deixa-se caído na cama, por indolência, não cai nem dela abaixo. Um pouco mais de fé e ânimo e iria até à varanda. Caminho mais rápido para comprar cigarros, modo alternativo, mas mais lento, de se morrer.
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O morto deixa-se adormecido, na esperança de que tudo não passe dum pesadelo, que possa acordar mesmo morto.
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O morto fecha-se na escuridão do quarto, ambientando-se à luz que não terá na tumba. Mesmo lá estará vivo e esperando morrer.
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O morto não tem saída. Caixão fechado à esperança. Com força de vontade conseguirá. A morte faz-se passo a passo.
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No jazigo transparente em que se verá… só a vantagem de não ter corpo e de não ter de falar a quem se esqueceu de lhe dizer qualquer coisa…

1 comentário:

Anónimo disse...

Entendo-te completamente, a duvida e: coragem para viver ou coragem para morrer? se te sentes morto, vivendo, a morte trara surpresas?