Nunca te escrevi um poema de amor, porque não te conheço. Se escrevo alguma coisa agora é porque tampouco.
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Pela velocidade dos teus dedos e dos teus verbos, sei-te de sangue. Oiço-te à distância de um ou dois bairros. Invejo-te a ilusão e envergonho-me do cinismo de tanta concessão. Não sou menos honesto, sou manso.
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Ouvir-te gritar é sentir o pulsar. Sou discípulo do silêncio, irreverente e cordato. Tenho a coragem de não ser revolucionário, mas embeveço-me com a saliência, a plasticidade, das tuas veias quando gritas.
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Sim, haveria de me apaixonar por ti se por dois minutos ficasse a olhar-te nos olhos a ouvir-te. Até seria capaz de acreditar nisso que dizes e não acredito.
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Na bola de cristal vejo que tens sal nos lábios. A olho nu, vejo sal nos teus lábios.
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Eu, macho, vergo-me perante a feminilidade que autoritariamente exalas. Cordato, já te disse.
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Já me imaginei campeão amando-te. Quendera, fosse eu homem suficiente. Mais do que ter audácia, tivesse fibra.
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Nunca te escrevi um poema, mas declaro o meu amor. Não de joelhos, mas em cima duma cadeira, para que te poder olhar nos olhos.
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Possa eu ter toda a razão do mundo, derribas-me. Queira eu amar-te, serei sempre manso. Digo então apenas e em voz alta, que não sou homem suficiente para ti.
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Nota: The truta love.
3 comentários:
Lindo, João!
Estou sem palavras. Que beleza. Um grande beijo, meu amigo. :*
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