A minha quase ilha de quase névoa. Onde as gaivotas também pousam e o vento traz cinzentos do mar.
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Quase fora do contorno, como se fosse a lápis a paisagem. Quase fora do contorno, com os pés em descanso para que o corpo não caia para lá da quase ilha.
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Está frio, o cinzento. Esta quase ilha de quase sempre Inverno. Quase sempre o mesmo.
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As quase ilhas têm água a toda a volta, como as ilhas.
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São quase, porque delas não se sai. Está-se na quase ilha e pode ser-se num lugar qualquer.
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As quase ilhas são ingovernáveis, por não haver nada para governar. Não são selvagens nem humanizadas. Nem assim-assim.
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São lugares de estar. Estar sempre, ainda que se possa ser em qualquer lugar. Não se explicam. Não há do que se possa explicar.
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A quase ilha tem água fria e pedras de limos e alfaces-do-mar. Tem pedras molhadas e areia salgada.
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No Natal é outro dia. Dia de solidão mais só. Se não há ninguém nas ruas das cidades... Ninguém para avistar no céu. Ninguém à frente até ao horizonte.
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O Natal é outra solidão. Mas há os caranguejos, os mexilhões e tudo. No Natal, tudo fica a preto-e-branco, em contraste suave, no cinzento de quase nada.
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No Natal não há navios a apitar como no Ano Novo. Tirando o dia de Natal é quase sempre Natal na minha quase ilha.
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Lugar de solidão para amarrar os braços às pernas e enfiar a cabeça no buraco do seu conjunto. Cabeça encaixada e ombros encolhidos.
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Tanto faz se a brisa faz voar a melena. Não há ninguém para secar as lágrimas. Nem ninguém para saber se as feridas se lambem.
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Quase névoa e só o mar a bichanar. Como se fosse um chamamento de Deus, que não me quer só.
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Quase não conheço a quase ilha. Na verdade, não consigo sair deste sítio em que a areia se cola aos pés e as pedras os fazem escorregar.
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Não sei o que é a toda a volta. Instintivamente, com o sexto sentido, sei que se cerca de água. Com esse sexto sentido sei que nela não se entra e dela não se sai.
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Mas pode ser-se noutro lugar.
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Habitante único. Pode ser-se outro na minha quase ilha.
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Quase fora do contorno, como se fosse a lápis a paisagem. Quase fora do contorno, com os pés em descanso para que o corpo não caia para lá da quase ilha.
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Está frio, o cinzento. Esta quase ilha de quase sempre Inverno. Quase sempre o mesmo.
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As quase ilhas têm água a toda a volta, como as ilhas.
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São quase, porque delas não se sai. Está-se na quase ilha e pode ser-se num lugar qualquer.
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As quase ilhas são ingovernáveis, por não haver nada para governar. Não são selvagens nem humanizadas. Nem assim-assim.
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São lugares de estar. Estar sempre, ainda que se possa ser em qualquer lugar. Não se explicam. Não há do que se possa explicar.
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A quase ilha tem água fria e pedras de limos e alfaces-do-mar. Tem pedras molhadas e areia salgada.
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No Natal é outro dia. Dia de solidão mais só. Se não há ninguém nas ruas das cidades... Ninguém para avistar no céu. Ninguém à frente até ao horizonte.
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O Natal é outra solidão. Mas há os caranguejos, os mexilhões e tudo. No Natal, tudo fica a preto-e-branco, em contraste suave, no cinzento de quase nada.
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No Natal não há navios a apitar como no Ano Novo. Tirando o dia de Natal é quase sempre Natal na minha quase ilha.
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Lugar de solidão para amarrar os braços às pernas e enfiar a cabeça no buraco do seu conjunto. Cabeça encaixada e ombros encolhidos.
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Tanto faz se a brisa faz voar a melena. Não há ninguém para secar as lágrimas. Nem ninguém para saber se as feridas se lambem.
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Quase névoa e só o mar a bichanar. Como se fosse um chamamento de Deus, que não me quer só.
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Quase não conheço a quase ilha. Na verdade, não consigo sair deste sítio em que a areia se cola aos pés e as pedras os fazem escorregar.
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Não sei o que é a toda a volta. Instintivamente, com o sexto sentido, sei que se cerca de água. Com esse sexto sentido sei que nela não se entra e dela não se sai.
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Mas pode ser-se noutro lugar.
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Habitante único. Pode ser-se outro na minha quase ilha.
2 comentários:
Lindo! E cheio de quases que se sentem e não se explicam. Como convém a qualquer ilha. :))
vindo de quem vem, é um elogio.
beijos da quase para a ilha
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