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Hoje acordei num momento ambíguo, nem cedo nem tarde. A aquela que já foi miúda acordou-me e desvaneceu-se ao abrir dos olhos. Logo a mim, que tenho uma cama deprimida e solitária.
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A outra rapariga, a que conheci há dias, não me desperta muito, apesar da sua beleza e escultura. Prova de que olhos de negro profundo e sorriso aberto não são sinónimo de fantasia. Não a quero como mulher nem como objecto.
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Neste tempo em que se percebe a despedida do Verão não há já as esperanças do começo do estio. Tudo é já certeza e a juventude dos dias deu lugar à maturidade das horas. Quendera os amanheceres de Junho.
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Ainda não é amanhã que vou à praia. Custa-me ir tão longe para ter prazer ou tão perto para ter cadinhos. O Sol esgota-se desde que nasce e desde que começam os dias. Nasce, morre e renasce antes de voltar a morrer. Lá para Dezembro é fugidiu, em Junho é magnânimo.
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Tenho uma certa inveja da sua vida. Eu que tenho uma plana e deprimida. O Sol quando tem de se queixar desaparece. Eu tenho que aguentar toda a fraqueza à frente do mundo. Ele resplandece e ninguém repara na minha alegria.
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Espero hoje ter a largueza de ver o luar. O Tejo, sempre o Tejo, à vista ou adivinhação. Que a luz da noite prometa tanto quanto as dos amanheceres de Junho e Janeiro. Logo mais saberei.
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