
Das coisas que tenho pena de não ter feito na adolescência foi de atirar pedras à janela da namorada durante a noite, para a seduzir à distância esquisita, vertiginosa e desequilibrada que tem sempre um parapeito face à rua, sempre ampliada pela luz magica do luar.
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A razão da ausência duma aventura dessa dimensão não é a época, porque não deixou de haver noites nem janelas nem recolhimentos. Aconteceu-me apenas. À época ter-me-á parecido uma sorte ou não terá parecido coisa nenhuma. Hoje lamento muito a falta de tais esperas, a maldita ansiedade, a adrenalina dos sentidos todos em alerta e as emoções todas vermelhas: o desejo e a surpresa.
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O tempo das descobertas e das surpresas absolutas passou, já lá vai. Paciências. Tenho idade para quase duas adolescências somadas. Porém, felizmente que Deus é generoso, ainda há deslumbramentos. Não apenas coisas boas que são certas, mas coisas novas que invadem a alma com uma alegria desconhecida.
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Num dos dias primeiros deste Inverno, que vai agora com os dias avançados, chegou-me pelo Correio uma encomenda com vinho para experimentar. Reconheci de imediato o remetente: Casa Agrícola Reboredo Madeira. Uma empresa que se projecta no mercado através da marca CARM e faz nome e reconhece-se com categoria nos azeites e vinhos. A correspondência trazia-me novidades de Almendra, as duas novas invenções daquele estabelecimento duriense: CARM Grande Reserva Tinto 2004 e CARM Grande Reserva Branco 2005.
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O vermelho tem aromas a fruta vermelha sem exageros e na boca é envolvente, complexo, longo e muito elegante. O amarelo tem alguma fruta cítrica e minerais, muito fino. Tanto um como outro deixaram-me em enlevos românticos, embora tenha vibrado bem mais com o tinto.
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Não pude mandar pedrinhas à janela da namorada quando tive 16 anos, mas a felicidade ingénua da descoberta tenho-a, felizmente, doutras formas. Em vez do deslumbramento pelo efeito magnífico duns cabelos a ondular ao luar tive, agora, um espanto pela elegância dos dois Grande Reserva da CARM.
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É duma simpatia!...
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O Alentejo tem para mim um significado especial. A planície mexe-se diante dos meus olhos, mesmo na quietude dos dias. O ondulado dos cerros tem um movimento permanente, muito doce e afectivo. Não é só a memória do mar de searas, que já foi maior. É o movimento da orografia e o movimento do músculo cardíaco.
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A maior província portuguesa é um berço de gente, sem que nasça lá uma multidão. Penso que todos os portugueses têm uma avó alentejana ou um parente próximo. Para mim o Alentejo faz-se de enchidos, de azeite, de azeitonas, de pão e de vinho, tem o odor das ervas bravias e das casas caiadas. Depois há a simpatia das gentes.
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Há uns meses, já passaram meses, tive toda essa sensação de Alentejo. Aconteceu numa visita a Montemor-o-Novo e num tinto tive toda a evocação desse espaço familiar e das memórias. A viagem fez-se muito por causa do Herdade de Torais de 2004 e da simpática conversa com o seu produtor Fernando Pereira Coutinho. À mesa houve comeres dos campos grandes para abrir ainda mais as almas.
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Não é uma conífera, o que interessa
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Será a botânica uma ciência exacta? Gostaria muito de saber. Por culpa do signo e do ascendente, gosto de coisas certinhas e definitivas. Assim, fico infeliz com a incerteza quanto à exactidão da botânica. Tudo isto começou com uma questão.
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As dúvidas têm, muitas vezes, a característica de se comportarem como pragas e de alastrarem na mente. Comecei-me por perguntar sobre o que é o zimbro e estampou-se contra mim uma indefinição de número.
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Primeiro uma certeza: o zimbro pertence ao género das coníferas e à família das cupressacea, sendo muito frequente na zona de influência do Mediterrâneo, incluindo Portugal, que não é banhado por tal mar. A incerteza: a quem afirme que existem 52 espécies e quem garanta que são 67 variedades.
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Como a minha formação é outra e gosto de certezas nas gavetinhas do meu cérebro – além do meu propósito ser outro – prefiro um outro zimbro, não contemplado nestes números. Este outro é o Zimbro 2004 e vem do Douro, tem na boca fruta, compota, chocolate e um toque melado.
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