digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

quarta-feira, novembro 04, 2009

Freixo de copo na mão





















Às vezes não sei onde ponho os pés e tropeço. Nem sempre caio, felizmente, mas bato com os pés em muitas coisas, umas grandes e outras nem tanto. Deve ser karma de ter uns pés tão adultos. Tropeço em coisas muito diferentes, o que me permite encontrar algumas preciosidades, além das mais costumeiras contusões e nódoas negras.
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Uma vez andava eu, feito mono, aos pontapés à vida e dei comigo em Freixo de Espada-à-Cinta. Digo aos pontapés à vida, porque cheguei até àquela vila sem esperar nada, quando devia esperar tudo. Pensava:
- Mas o que raio se passa em Freixo de Espada-à-Cinta? O que faz alguém viver ali? O que os prende àqueles torrões ermos?
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A minha arrogância e frieza de lisboeta custou-me uma lição. Aprendi (?) que se as gentes estão em algum lugar é porque lá devem fazer falta e alguma coisa de útil estarão a fazer. Pelo menos têm o direito a querer lá estar, ainda que a minha cabeça pequenina não entenda.
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Bem, mas voltando à estória de Freixo de Espada-à-Cinta... Cheguei ali por causa duma iniciativa inovadora dum empresário irrequieto, com ideias para levar gente a uma terra onde não passa quase ninguém. Lá fui a dar pontapés na vida à espera de narrar mais um investimento, do qual se espera sucesso. Dei por mim numa quinta de calhaus à flor da terra.
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A primeira coisa que percebi foi o significado de crosta terrestre. É verdade! Uma coisa é ter-se terra, essa substância mais ou menos macia, e nela fazer-se agricultura e outra é ter-se um campo de pedras. Depois tudo se acelerou e modificou na minha cabeça, sobretudo quando provei o vinho proveniente daquelas cepas enraizadas no chão pleno de xisto.
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A reportagem fez-se e lembro-me dela porque a ideia inovadora era mesmo boa, mas o que recordarei sempre mais há-de ser o vinho e o chão da Quinta de Maritávora.
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O concelho de Freixo de Espada-à-Cinta ainda está incluído na Região de Demarcada do Douro, no Douro Superior, e naquela quinta fazem-se um tinto, um reserva branco e um reserva tinto.
O Quinta de Maritávora Tinto Reserva de 2004 tem um belo corpo, bem equilibrado, a sentir-se a fruta e a notar-se bem a madeira. É um vinho de espantar. A mim, tirou-me todas as peneiras!

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