digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

quarta-feira, novembro 04, 2009

Em equilíbrio no Douro

Outro dia estava com saudades do Verão e das férias. Porém, os meses fintaram-me e o trabalho não me deixou partir uns dias de descanso nem a semana escapar. Azarinhos, como diz a minha amiga Ger. Ai! Estava mesmo com um daqueles calores na alma, saudoso dos aromas das ermas a secar, dos ruídos dos insectos e até talvez das moscas do campo. Bucólico, digo agora friamente. Patético, dirão os pragmáticos incapazes de se apaixonarem pela beleza irregular das pedras dos caminhos. Pois nesse dia estava com a alma maior do que o corpo, com uma nostalgia nos olhos e melancolia na voz.
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A passagem das horas não acalmou o frenesim, como se tivesse um desses agitados formigueiros que no Verão despontam no campo. Bucólico, insisto. Pois nesse dia estive incapaz de trabalhar, verdade seja dita e só espero que quem me paga o chorudo ordenado não me leia. Estive incapaz de trabalhar e no percurso para casa não dei por nada, a cabeça esteve longe, enquanto o corpo reagiu aos estímulos do exterior... só espero que a Divisão de Trânsito da PSP também não me leia. Nesse dia parti de férias para o Douro.
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Muito embora as carnes estivessem em Lisboa, o espírito esteve a percorrer veredas no vale do Douro em pleno Verão. Num Verão qualquer. Só dei por isso quando cheguei a casa e a vi invadida por amigos. Nesse dia não vieram para jantar, mas tão somente para saudar. Veio a Indizível com a Karine e o Philippe, um par de franceses muito divertido.
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Os franceses não conheciam muito de Portugal e ainda menos do seu vinho. Ele é apreciador e sabia que por cá se fazem vinhos, ela menos conhecedora não se mostrou desatenta. Do que por cá se faz, ambos tinham apenas conhecimento dos Vinhos da Madeira e do Porto. Nesse dia em que as saudades do Verão ardiam dentro de mim, decidi dar-lhes a conhecer vinhos não fortelecidos. Fui vasculhar o que havia lá por casa e descobri, envergonhado, uma garrafa que me esquecera por completo. Não sei como fora possível, mas na verdade aconteceu. Não tinha perdido a memória do vinho que continha, mas olvidara a sua existência. Todavia, estava descoberta e aquele era um bom momento para a revelar.
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Saquei então a garrafa de Casa Burmester Reserva 2004 e em cada copo revelou-se um mago. Magias! É um tinto robusto, cheio em frutos vermelhos maduros e especiarias, com taninos presentes. Um vinho equilibrado e sensato.Calhou-me bem aquele vinho tão duriense. Encheu-me o peito. Satisfez-me. Fui ao Douro sem sair de casa. Os franceses adoraram-no e retornaram ao seu país com vontade de conhecer o vale. Quanto à Indizível... nada posso dizer.

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