digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

sábado, fevereiro 14, 2009

Marta





















Era morena, bonita e não muito alta, bem
feitinha. Simpática e aparentemente inteligente
e sensível. Não sei onde nem como a conheci.
Depois, pouco depois, foi assim:
- (não me lembro)
- (não me lembro)
- (não me lembro)
- (não me lembro)
- (não me lembro)
- (não me lembro)
- (não me lembro)
- (não me lembro)
- (não me lembro)
- (não me lembro)
.
Isto foi assim, mais coisa menos coisa. Uma voltinha de carro e estávamo-nos a beijar... ou talvez já estivessemos antes.
.
Ela deve-me ter dito o nome e o que fazia. Não me lembro. Devia ser artista ou afins, tenho uma certa tendência e reincidência. Sei que me disse que não tinha namorado, que o deixara há uns dias. Mais beijinho menos beijinho. Mais beijinho menos beijinho disse-me que ia voltar para a Madeira. Sim, podia ligar-lhe.
.
Toca. Toca. Toca. Toca.
- Estou?
- Sim. Gostaria de falar...
- Ela está no banho...
- Bom, peço desculpa. Pode dizer-lhe que liguei? Que sou o João.
- Sim , tudo bem. Direi.
.
Uns minutos ou horas.
- Olá. Estás bom?
- Sim. E tu?
- Também. Ligaste-me?
- Sim, liguei. Atendeu-me um...
- Era o meu namorado...
- Era para saber de ti, se querias combinar alguma coisa.
- Hoje não vai dar. Já combinei com o meu namorado e amanhã vou para a Madeira.
- Afinal tens namorado. Não tinhas acabado?
- Eh... sim...
- Foi ontem.
- Pois foi. Agora tenho de desligar, ele vem aí.
- Ok. Ainda nos vemos?
- Acho que não.
- Beijos.
- Beijos.
.
Anos mais tarde... dois ou três ou quatro. Quatro da manhã ou qualquer outra hora da manhã. Maxime, algum álcool e pouca luz.
- Olá!
- Olá! (quem será esta?).
- Lembras-te de mim?
- Sim, claro. (quem será esta?).
- Lembras-te mesmo?
- Lembro-me! (mentira).
- Então, como me chamo?
- Marta! (lotaria)
- Pois é! Lembras-te mesmo! (grande sorriso).
- Claro! (mentira).
- O que tens feito?
- O mesmo.
- E tu?
- Voltei da Madeira.
- Que bom! (voltou da Madeira? acho que já sei quem é).
- (silêncio).
- Então até um dia destes.
- Adeus (infelicidade).
- João, quem era?
- Não sei.
.
Já não me lembrava dela. Nunca mais a esqueci. Não sei quem é. Nunca mais a vi.
.
.
.
Nota: Dedico este texto a todas as desconhecidas que conheci... especialmente à Marta.


Song For Whoever - The Beautiful South

2 comentários:

DGacia disse...

Bela história. As martas desta vida não são, afinal, todas iguais. Nem os Joões ou Manéis. Bjo querido.
D

Anónimo disse...

Brilhante... :)