digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

quinta-feira, agosto 16, 2007

A luz e a zanga


- Que a luz te não falte - disse o anjo.
- Assim o queira o Senhor Deus - respondi.
- Que a luz não te falte, assim o queiras tu - disse o anjo.
- Por vezes, a vida é negra - teimei.
- Os dias de luz és tu que fazes e os de sombra também - disse o anjo.
- Mas não há sombra sem luz - continuei.
- Não é isso que quer Deus - argumentou o anjo.
- Zanguei-me com Deus. Deus não me dá nada que eu peça - barafustei.
- Os teus dias és tu que os fazes e neles fazes o que quiseres - disse o anjo.
- Estou farto dos meus dias e Deus não mos alivia - quase gritei.
- Tu também não alivias os dias de Deus. Limitas-te a existir e a pensar só em ti. Que fazes tu pelo bom Deus? - perguntou o anjo.
- Se ele não me dá nada a mim, por que haveria eu de lhe dar alguma coisa? - interroguei retoricamente.
- Ele deu-te a vida - disse o anjo.
- Pois eu não a quero para nada - disse encolhendo os ombros.
- És eterno e imortal, sabias? - prosseguiu o anjo.
- Marimbo-me para a eternidade. Se não quero a minha vida para que quero a eternidade? - argumentei zangado.
- Pede isso a Deus - disse o anjo já saturado.
- Não peço nada a Deus, porque ele nada me dá. Fico com os meus dias para a eternidade - concluí.
- Muita luz para ti - desejou o anjo.
- Muita luz para ti e que o diabo te carregue - acordei ou adormeci, não sei bem.

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