E se a minha vida tivesse um buraco? Onde o teria? Talvez até o tenha e apenas o desconheça... por hábito. Desconhece-se tanta coisa por hábito!
Se tivesse um buraco na vida, onde o teria? Para onde iria dar? Uma janela aberta para o bem, para um jardim de bem-estar ou uma porta para a estrumeira fétida onde despejo as minhas imundices? Se não tenho um buraco na vida ou se o tenho e não dou por ele talvez não consiga imaginá-lo verdadeiramente.
E se o buraco na vida estivesse agarrado ao meu corpo? Onde o teria? Numa perna? Porquê numa perna? Porquê só numa? O mesmo se dirá para um pé ou braço ou mão. A ter um buraco na vida e a tê-lo agarrado ao corpo tem de estar no tronco ou na cabeça, porque é onde faz sentido. Porque é onde há vísceras. Nos músculos da acção não há razão para se ter um buraco na vida. Quanto muito pode ter-se ausências, mas não buracos.
A ter um buraco na vida agarrado ao corpo seria visível? Só importa se o fosse, porque não sê-lo é ausente de importância. Um buraco invisível seria uma ferida a requerer um acto médico e não uma vergonha esquisita que se ocultasse ou sussurrasse. Um buraco oculto não é digno de nota.
Um buraco na cabeça e pareceria um ciclope... daria por isso, estou certo. Um buraco na vida agarrado ao corpo tem, assim, de estar no tronco e ligar um lado ao outro da pele. Se o tenho? Não o vou confessar. Não sei. Se soubesse seria feliz. Se soubesse, ainda assim, seria ignorante quanto à sua função. Se soubesse teria pudor de o reconhecer...
E se a minha vida tivesse um buraco? De onde a onde? Poderia alguém apertar as mãos dentro de mim?
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