digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

domingo, fevereiro 25, 2007

A cidade












Tenho a vida toda na rua. A minha vida não é a rua. Não me faço de tijolos e alcatrão e vidro. A tinta das paredes serve-me de papel e de assinatura e de pastel. Sou da cidade. Pertenço à cidade como os bancos, semáforos, mercados, autocarros, gares ferroviárias, metropolitano, engarrafamentos, acidentes, rádios, anonimato, polícias, plantas de localização, jornais, sida, táxis, antenas, portos, telhados, discussões e jardins. Só há jardins nas cidades, porque no campo há o campo.
Porque sou da cidade só posso viver na cidade? Como a mulher fidelíssima! Como sou da cidade, que amo devotamente, posso viver até no campo. Posso amar a cidade, amando-a à distância breve e próxima. Não muito longe nem muito distante, por causa do sofrimento. É na cidade que danço e amo. Tenho a vida toda na rua. A minha vida não é a rua. E também não sou a cidade.

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