digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

segunda-feira, fevereiro 12, 2007

O limite de chuva

O limiar da chuva é a minha fronteira contigo. Aqui chove sempre e aí faz sempre Sol. Caminho a pé vestido com uma gabardina. Tenho várias: azul escura, cinzenta-clara e preta. Caminho com a cabeça à chuva ou protejo-a. Tu viajas de descapotável vermelho ou qualquer coisa no género.
Ambos vamos à praia... conhecemo-nos lá: chovia sobre mim e raiava um Sol esplendoroso em ti. Eu estava macilento e esverdeado. Tu, dourada e viçosa, sorrias. Um mesmo lugar e dois sítios distintos. Frente a frente não estamos diante um do outro, vemo-nos através ou à transparência.
Onde és concreta, sou fantasma. Onde existo, nunca estás. A chuva é a minha fronteira. Está sempre Sol em ti. Para ti a sombra é uma consequência da luz e nem imaginas uma vida escurecida, onde a sombra é a ilusão dum vulto, uma aparência difusa.
Exiges sorriso como se houvesse a obrigação da cor. Obrigas o estado sólido à água e desconheces que nessa situação fica gélida. Desconheces a ausência do som e a flutuação forçada, porque no teu lado da vida há sempre uma brisa fresca que alivia a dor.
A minha fronteira contigo é o limite da água. Passa um rio entre nós. Dum lado a vida e do outro um estado febril e doentio, que não é morte ou coisa alguma. Aqui chove e apenas isso. Aí está sempre Sol.

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