digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

sexta-feira, fevereiro 02, 2007

A sacerdotisa

A mulher sentou-se ao meu lado, Ela estava linda e eu deitado. Como todas as mulheres, ela tinha o poder. Atena sentada ao lado de Ares deitado.
A mulher é a cidade e o homem o castelo. Na mulher entra-se a convite, no homem força-se a entrada. Na mulher, o comércio e a fala. No homem, a língua franca ou o silêncio e a guerra.
A mulher sentou-se ao meu lado e jogou-me as mãos ao corpo e ao pericorpo. Na rua o ruído de sempre. O ruído de sempre entrava no quarto e caía frente à música de sons. As mãos da sacerdotisa amavam-me. E eu, deitado, amava-a.
Lá fora havia o ruído de sempre. Lá fora havia outras vidas. Um pai muito bonito, uma outra mulher e o bebé que começa a querer andar. Lá dentro a sacerdotisa tinha as mãos no meu corpo e no meu pericorpo. Lá dentro, eu amava-a e amava a outra mulher.
A mulher sentada abriu-me a mão e nela colocou um mundo. O mundo dos sons. A música dos sons. O ruído da rua. O ruído de mim. Os pensamentos em rodopio. O caos nos sons de mim. A mulher e as taças. Os sons mágicos das taças. Eu amava-a e amava muito mais alto, como sempre, a outra mulher, sentada no outro quarto.
O lugar dos amigos. Os abraços. O gesto do sorriso. A palavra. Como sempre. A mulher sentada levantou-se. A taça maior amou-me como eu a amei a ela. Como eu amei a sacerdotisa.
Amei mais, maior, mais longe, mais antigo, mais duradouro, a outra mulher. Deixei o meu amor profundo. Cinza do tempo. Cinzas doutro tempo. Desvio das vidas. Na outra sala.
A mulher sentada levantou-se. Levantei-me. O abraço. O sorriso. A taça amou-me e eu amei-a. Abracei a mulher e a taça.

Nota: Texto dedicado à amiga Amalah.

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