digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

domingo, fevereiro 04, 2007

Melancolia à tarde

Não sou um cidadão exemplar. Nunca serei ministro. Contudo, tenho um grande amigo. É tão incoerente quanto eu. Nunca será ministro.
A melancolia é própria dos palácios. Mas as paredes altas e os quartos largos não se fizeram para estarem sempre vazios. Só nas festas devem estar cheias as salas dos palácios.
Os meus sapatos ingleses reflectem a luz que vem do jardim. O casarão é demasiado grande para mim. Nem as correrias loucas das gatas esvaziam de vazio as melancólicas salas. Os meus sapatos ingleses soam bem quanto caminho sobre o soalho de madeira escura.
Não sou um cidadão exemplar. Se o fosse já teria chegado a algum lugar que valhesse a pena. Contudo, tenho um grande amigo. Às vezes ele senta-se comigo nas tardes de melancolia e ficamos os dois em silêncio.
O palácio não me pertence. Foi-me emprestado pela família. É meu durante a minha vida, quando morrer deixará de ser. Mas a melancolia das salas é toda minha, porque o vazio das salas sou eu que o faço. Nunca chegarei a ministro.

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