O perfume que tenho nas mãos é um corpo estranho, um prolongamento de lugares fora de mim. Hoje basta-me para casa uma caixa de vidro ou uma armação para arrumar toda a inquietação. Se olharem só me vêem o corpo, não a inquietação. Sem mim dentro, a estrutura espelha o meu permanente vazio e o sentimento de culpa. Dentro estou escondido.
Deitado ainda sobra espaço. Cabem os meus pensamentos, os olhares dos outros e este perfume imposto por estranhos a mim.
Deitado não serei objecto de adoração nem de comiseração nem de arte. Deitado estarei em casa, quem olhar verá a minha cozinha, o meu quarto, as minhas intimidades visíveis. Nada que nenhum tenha. Mas lá dentro estará toda a minha inquietação ou o espelho do meu vazio.
2 comentários:
que bela caixa mágica - a que mostra e esconde tudo!
beijinho
dia muito feliz!
Concordo com sa.ra, gosto da magia da transparência ;)
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