digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

terça-feira, janeiro 23, 2007

Pianista

Ouvi a respiração do pianista. Julgo que era um pianista, mas como tenho mau ouvido deveria ser uma mulher. Ninguém respira assim! É inconfundível aquele modo de inalar... e de expirar... só um homem respira assim. E como me enganam os meus ouvidos.
Não sei que concerto era. Sei do piano e da respiração do pianista. E da respiração do piano. Música com carne. Não sei se é bom a música ter esta carnação toda. Não gostei do concerto por causa daquele respirar. Tocou-me fundo a humanidade. Não gostei.
Depois, às vezes, surgiam umas cordas... de um violoncelo ou dum contrabaixo. Não sei, o meu ouvido é mau, já o disse. Surgiam umas cordas arrastadas, como um sussurro. Repare-se como a palavra sussurro é uma onomatopeia... Porém, este sussurro não era. Este era um arfar. Doía ouvir aquelas cordas, como magoa escutar alguém com asma.
Hoje ouvi vozes. O que importa o concerto?! O que interessa quem compôs o quê?! Aquilo foi interpretação em grande nível, mesmo que eu não tenha gostado... ainda que eu desconheça quem tocou e respirou.

Nota: Foi entre as 19h10m e as 19h30m de hoje na Antena 2, estava eu no trânsito de Lisboa.

3 comentários:

as velas ardem ate ao fim disse...

Sabe tão bem não sabe?

Adoro musica egosto muito de te ler.

(se quiseres visita http://mendesferreira.blogspot.com/)
bjos

formiga bargante disse...

SERIA GLENN GOULD?

João Barbosa disse...

Cara As Velas...: pois sabe bem quando sabe...

Caro Formiga Bargante: Essa é uma possibilidade a não excluir. Não tinha pensado nessa hipótese, mas faz algum sentido.