digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

quarta-feira, janeiro 31, 2007

A iminência do rio

O rio está aqui. A água passa sem que se saiba como a apanhar. O suplício da sede.
Um rio de dúvidas. Uma noite de medos e a sombra arrastada até ao céu. Uma sede maior do que o rio.
Numa margem, a ignorância de si. A dúvida e a inconsciência da vida.
Noutra banda, a dúvida e a inconsciência da vida. Meia viagem até à outra margem. O disparo.
A decisão. O disparo. O drama. O alívio. A inconsciência da vida.
Meia viagem até esta margem. O trajecto forçado de volta. As dores: da prepotência e da impotência. Sempre o drama.
O rio está aqui. O rio está sempre aqui. As viagens sempre por fazer. As viagens têm de se fazer. Somos de viajar. Somos de ir e de voltar. Cada meia viagem é uma viagem adiada. Cada meia viagem são lágrimas. Somos de ir e voltar e o rio está sempre aqui.

Nota: Este quadro intitula-se «Man-dog» e não retrata o drama do aborto. Contudo, a sua poética ilustra com imagens as palavras que quis escrever sobre a interrupção voluntária da gravidez.

2 comentários:

as velas ardem ate ao fim disse...

Até que enfim, um texto sobre o aborto sem vulgaridades...sublime.

bjo enorme Joãoe o meu muito obrigada

João Barbosa disse...

Obrigado... :-) e eú é que agradeço as visitas. bj