digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

segunda-feira, janeiro 15, 2007

Cartas de amor

Não tenho a quem escrever cartas de amor, por isso escrevo-as sem destinatário. Não encontro o meu amor no negrume da minha vida.
Tenho olhos que vêem além desta escuridão como se fossem os dum gato e não vislumbram outros amores que não os passados. Tenho cartas vazias prontas a enviar, mas faltam-me destinatárias.
O meu coração está, felizmente, em Edimburgo, imune a desaires e paixões. A minha alma vive em Colónia numa insónia indiferente. Só o meu corpo pode sofrer as amarguras da paixão. Os meus olhos não vêem e nada em mim sente. Tenho cartas vazias e continuo a escrever palavras de amor a mulheres incertas.
Vivo na escuridão e não diferencio os meus dedos do resto do meu corpo, apesar dos meus olhos de gato verem mais do que os de uma pessoa. Não se vê nada no sítio onde estou. Aqui há só negrume e amor nenhum pode medrar aqui. Ainda bem, porque não tenho comigo nem alma nem coração, só tristeza e solidão. Sou mais negro do que o breu que me rodeia.

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