digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

quinta-feira, dezembro 28, 2006

O verbo querer

Ainda levei copos de água para o leito a ver se o curso não secava. Fiz transfusões de água para dar de beber ao amor. É vida, é amor, é água.
Queria-te tanto e perdi-te... nas voltas da cabeça, reviravoltas do coração e sentimentos do fígado.
Nas tuas mãos e nas minhas corria um ribeiro, filho de águas muitas e algumas lágrimas. Já tínhamos idade para saber pronunciar beijo e abraço e silenciar os momentos que são de quietude. Os lençóis que amarrotámos tiveram o nosso odor e foram felizes connosco. Inundámos leitos com o nosso ribeiro frágil.
Por que secam os ribeiros? Porque morre a paixão ou uma nova surge. Por que secam os ribeiros? Porque morre o amor ou um novo nasce. Os bípedes esquecem-se sempre do verbo querer, apesar do conjugarem constantemente... insistentemente...
O ribeiro desviou-se, secou! Não por amor! Não por paixão! Por querer! O que diz o corpo? O que dizem os olhos? Como diz a voz? O que diz a boca? Palavras descoladas da imagem.
O ribeiro nunca será rio, porque a natureza não quis que desaguasse no mar, num lago ou num estuário maior. Morreu seco e sem glória, a meio caminho numa campina. Por querer! Simples! Não é capricho, é vontade, e que mal tem isso? É lícito! É a vontade que comanda a vida.
Por que se há-de ter quem se ama e se quer? Que se queira apenas uma amizade para haja um sentimento infantil e impoluto, um passado apagado e sem mácula, sem pecado nem remorso, sem dor e sem esperanças. Os amores mortos são sempre os mais belos, porque não têm tempo para desiludir. Os amores novos, pequeninos e pretéritos são margaridas por desfolhar: «ama-me? não me ama?».
Rejeitar um amor por querer não é tontice, é poesia. É jogar ao ar uma nuvem multicores de flores. É uma Primavera de odores contraditórios, festivos e tristes. É brincar a vida, é ser uma criança muito linda. É sorriso e festa, é despreocupação. Não importa se magoa, só importa que é belo!

3 comentários:

Folha de alface disse...

q bela reflexão sr barbosa :)
bjs

Anónimo disse...

Lindo!

Anónimo disse...

Isto é simplesmente lindo, João! Posso transcrever uma parte num dos meus cantinhos? Beijo enorme.