digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

quarta-feira, dezembro 06, 2006

Neste tempo

Vim ao mundo num dia frio e, provavelmente, por isso prefira Janeiro a Agosto. Há pouco vi gaivotas a banharem-se numa poça de chuva, certamente por estar mais fresca do que a água do Tejo. Estas aves não têm medo do frio e apreciam-no; não me digam que são gordas, as gaivotas.
As minhas faces ruborizam-se quando entro no escritório, por calor e por vergonha. Pelo calor do exagero do medo do frio e pela vergonha da distância da natureza. Quando há frio, há frio e pronto: batem-se as mãos e festeja-se, aplaude-se. O calor arrepende, é a fonte da preguiça e da desilusão. O frio arrebita e o calor é a cama. Sim, apetece o calor no frio. Mas na vida fora dela, depois da casa, o que se pode fazer com calores? Também há vida depois da manhã e da infância! Não percebo como se pode viver de aquecedor ligado.
Sou do hemisfério Norte, duma ponta Atlântica, da mais ocidental terra Europa, não o sou por acidente. Gosto do frio como outros gostarão do quente e dos trópicos. Aqui nem há frio... e o frio é psicológico, um estado de alma. Nem me importava de viver num frigorífico desde que tivesse janelas e vistas.
Gosto do vento; de muito vento. Gosto de muito vento pelas costas, mais de a três quartos de frente e mais ainda de o enfrentar. Derrotar o frio é uma vitória gloriosa, uma alegria radiosa como o primeiro Sol depois da trovoada. Que mal tem a chuva? São belos os dias de cinzento-chumbo e o horizonte emparedado de chuva. É de felicidade o passeio na invernia. Não sou um navio fantasma, sou um habitante do Inverno.
Sem o frio não há os sabores do Inverno nem os pretextos para os intermináveis serões. O gotejar permanente e cheio das enchurradas são a música das conversas da família, sentada à mesa ou à volta do lume, entretida com o sabor do pão, do presunto, dos enchidos, do vinho e do café. O Inverno realça o calor do sangue e faz magia com os enfeites das chamas nas lareiras.
Se Deus quiser este ano volta a nevar em Lisboa... que pena não acontecer mais vezes. Um dia destes vou convidar uns amigos e fazer glühwein... para recriar alguns encantos da Europa germânica no macio Inverno mediterrânico. É bom celebrar a amizade e o frio é um convite ao abraço.

3 comentários:

Anónimo disse...

dizes isso para te convenceres?

Anónimo disse...

O frio é pedir e dar mais abraços...e sentir os pés frios debaixo dos lençóis e ter vontade de aquecê-los só com os batimentos do coração...os amores que começam no frio costumam acabar num dia de calor. Digo eu depois de ler o teu texto.
;-)) Muitos sorrisos e quentinhos...com copo de vinho na mão!

Anónimo disse...

Um abraçinho para aqueceres o coração, da tua amiga Gi :)