O meu coração não sente desgostos, nada lhe faz doer. Doem-me os olhos de tanto chorar e a alma escorreria sangue até secar se alguma artéria a abastecesse. Mas não o coração; nada o afecta! O meu coração não é blidado nem mesmo de aço, foi apenas retirado para que não mo voltassem a roubar e a violentar.
O meu coração bate por teimosia, longe e escondido, num segredo, numa caixinha em Edimburgo. Quem sabe se lá está? Não digo! Não digo para que não o possam ir buscar. A minha boca pode prometer amor e paixão e o meu corpo indicar tesão, mas o coração ninguém terá.
Poderei mentir nas juras e, se com uma arma apontada, entregar os códigos dos cartões bancários, mas não revelarei o lugar onde está o meu coração nem o darei a ninguém. Quem pensar que o leva terá apenas um músculo de imitação.
Porém, doem-me os olhos de chorar e a alma quase sangra. Um dia arranco-os e guardo-os num relicário que esconderei num nicho onde possam admirar o Tejo. E a alma, vendo-a ao Diabo, para que o corpo não a encomode.
2 comentários:
"Eu tenho um coração que anda, bate, pensa, sofre e ri comigo...
Eu tenho um coração que até tem vida´própria pois às vezes age sem que eu me aperceba.O meu corpo é quem o acompanha e eu gosto".
No dia em que tiver que fazer o mesmo que tu fizeste não sei o que me acontecerá pois como já me disseram: "o sentir é para ti um combustível"...
Tenho um ideia para a localização do teu nicho com vista para o Tejo...porque não num relicário na sé de Lisboa?
A alma vendida ao DIabo andará sem dúvida a vaguear tipo fantasma lá para o lado do cemitério dos prazeres...
Gostei muito do texto.
que bom, Tânia, voltar a ver-te por aqui. beijinho
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