digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

sexta-feira, outubro 27, 2006

O ciclo do pobre monge

Se abdico de alguém é porque abdicaram de mim. Só desisto por desistirem e os meus votos não valem muito, pois sustentam-se na desilusão e não na consistência dos princípios e dos valores.
A minha castidade é voluntária, mas só acontece porque ma impuseram. Por mim continuaria originalmente a pecar. A minha fé é feita de claras em castelo, que no descuido do pasteleiro e volta a perder a armação e a alvura. Assim são os meus votos e promessas. Sou um fraco monge.
Os meus amores são absolutos e quasi incondicionais. Depois morrem-se nas mãos, à minha vista, comigo à cabeceira do seu leito de morte e sem perceber o fenómeno do seu finado. Os amores em mim não medram. Por isso torno-me monge.
Mas nem o amor do Divino me prende por completo e completa é só a minha leviandade, que me leva a trocá-lo pela paixão das carnes das mulheres. Enamoro-me e logo se vai a castidade e volatiliza-se a poeira de santidade que, por ventura, poderia ter-se depositado em mim.
Dispo o hábito e meto-me na cama com a desejada, até o amor ser totalmente consumido. Na cinza não renasce uma Fénix e sobrevém apenas tristeza, incompreensão, lágrimas e partidas. Visto novamente o hábito e, envergonhado, cubro a cabeça com o capuz para que nem o espelho veja o meu rosto. Quando me refaço das dores mostro a cara, é quando volto a encantar e a enamorar. Não há emenda nem penitência.

2 comentários:

moonlover disse...

Gostei ;) gostei da descrição da personagem e adorei a frase ''a minha fé é feita de claras de castelo''
eheheh.

Folha de alface disse...

lá está o frei...