digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

sexta-feira, outubro 27, 2006

O carniceiro e a minha carne num talho

Não sei se os cadáveres me incomodam. Possivelmente perturbam-me mais as carcaças dos animais penduradas num talho. Quando um dia morrer, se isso acontecer um dia, quero ver-me jazendo.
Não sei se gosto de estar vivo ou se a vida vai por mim e estou habituado a estar e respiro, porque os meus órgãos assim mo orbrigam. Contudo, tenho um corpo e ele vibra com os prazeres dos corpos. Gosta de comida, de sexo e do toque.
O meu corpo aprecia tanto o toque que, se pudesse, até poderia doá-lo à ciência ainda em vida, para que fosse dissecado, mexido e analisado, mesmo que retalhado.
Sei que muito provavelmente sou mortal e um dia farei um trato com um notário, um padre exorcista e um carniceiro. Ao primeiro entregarei o meu testamento e aos outros tarefas: Porque ando cansado da vida e tenho incerteza da morte, tentarei ir. Pedirei ao talhante que me retanche e conserve. Saberá o prior, nos seus exorcismos, quando do meu regresso, porque não acredito na morte e teimo na vida. Quando estiverem certos da minha volta, sentem-me a uma mesa e sirvam-me a minha carne da vida anterior. Sei que não demorarei em voltar e, no frio, tudo se conserva por muito tempo. Que sabor terei? Não me comerei todo, e todo eu estarei à venda para gáudio dos curiosos e lucro do carniceiro, padre e notário. É um trato que um dia hei-de fazer.

3 comentários:

moonlover disse...

;)um pouco tétrico mas fez-me rir.

Anónimo disse...

nhack

Folha de alface disse...

ainda há bifinhos do lombo?
pode ser meio quilinho sff