digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

sexta-feira, outubro 20, 2006

Coisa nenhuma

Entre uma coisa e outra, coisa nenhuma. Um vale onde se estendem umas hortas e pastam umas vacas. Leite do dia para se beber ainda morno. Espaço largo, curto, mas largo, para dois felinos e quatro canídeos correrem atrás de lebres ou em perseguição dos seus e doutros destinos. O fumo da lenha chega sempre ao céu e através dele vai a minha alma... ainda mais alto que as montanhas que me aprisionam ou me protegem como muralhas. Há verdes e Outonos e o Verão é uma corrida do tamanho do Inverno. As abelhas zumbem e as vespas idem. Tudo idem. É a vida na festa única e individual. É a vida na sua banalidade e desinteresse. A janela tem cortinas e na cozinha há armários com portas de madeira e lá dentro doce de tomate. Para que serve, se não gosto de doces? Gosto de tomate. Tanto espaço para uma pessoa só. Tanta solidão para uma só pessoa. Pouco espaço dentro da cerca destas montanhas e poucas vistas. Entre uma e outra coisa, coisa nenhuma. Não saio de casa.

1 comentário:

Anónimo disse...

A M E I
Adorei a linguagem
Marcaste bem o texto todo e em si mesmo vai-se descobrindo o texto no seu geral...
Este será dos meus textos favoritos...se existirem!!
Isto é o que eu mais gosto de ler em ti...