digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

segunda-feira, setembro 11, 2006

Uma visão do fim do mundo

O que quer que seja que se escreva, quando estas linhas forem lidas muito terá sito dito, muito haverá para dizer e quase tudo para pensar. Contudo está tudo quente, e as palavras não saem para outro lado. Ontem ( e enquanto tiver memória) foi um dia em que tive vergonha de pertencer à espécie humana. Por mais que pense nas crianças que nasceram ou nos beijos que se deram, o que se passou nos EUA foi muito mau para ser verdade.
Não quero saber quem cometeu este conjunto de atentados nem ouvir os motivos que os suportam. Nem vou ligar ao que podem representar como símbolo os alvos, nem que balear os EUA no peito é uma ameaça à democracia, porque não é. Quero lá saber das ondas de choque nas economias. Quando estas linhas foram escritas ainda o pano não tinha caído sobre a tragédia, mas a dada altura não é a quantidade de alvos o que mais importa. Um atentado é sempre condenável, sobretudo contra alvos civis, porque é um acto de cobardia e vilania. Aquilo foi alarvidade. Choca a bestialidade, espanta a «facilidade» do absurdo. Como é possível haver num dia barbaridade tão concentrada? Talvez seja só comparável aos anos do nazismo.
Os EUA são a maior potência e por não terem adversário clássico, só parecem ser vulneráveis por golpes baixos. A espionagem e a defesa não foram capazes de saber ou de travar estes episódios. Agora, os EUA não devem apenas lançar um plano de eliminação de criminosos e de aplicação de justiça, mas parar para pensar.
Quem vai à guerra dá e leva. Os EUA podem não estar em guerra, mas os seus interesses chocam com outras vontades. A Terra não é apenas um planeta de recursos e coberto de países, que são amigos ou inimigos conforme os interesses. As políticas externas traduzem sempre conveniências. Não sei quem são as bestas que planearam e realizaram os atentados, embora possa desconfiar. A política externa dos EUA nunca se pautou por valores morais e George W. Bush tem mostrado ser desatento e até desastrado.
Bush ficará na História não pelas suas argoladas, não por ser desastrado na política externa, mas como o senhor que estava na Casa Branca quando os bárbaros atacaram a América. Dizer que o presidente norte-americano semeou o pesadelo que ontem colheu é um abuso. Mas a sua política acicatou canalhas em vez de acalmar. Não gosto de Bush, mas espero que seja recordado como o homem que soube pensar e tirar conclusões sobre o que deve ser uma superpotência no mundo.

Nota: Esta crónica foi escrita, a quente, a 11 de Setembro de 2001, quando tudo era incerteza, e publicada a 12 no jornal «A Capital». Esta sua republicação pretende evocar aquele dia em que o mundo mudou e também as suas vítimas, em Nova Iorque, Washington e por todo o mundo, nas réplicas bélicas e terroristas do atentado. Infelizmente, George W. Bush não desfez a imagem que tinha dele.

4 comentários:

Mia Alari disse...

João o que aconteceu? esse texto não tem nada haver com o teu estilo...mas tbm posso estar enganada!

Anónimo disse...

Apesar de toda a desgraçada que os EUA causam por esse mundo fora, o que assistimos nesse dia em pleno directo, fez com nos sentíssemos do lado deles, deles não governantes, mas deles povo, povo que acredita, como nós que vivemos em países onde estamos mais ou menos a salvo, deste tipo de loucura... a partir desse dia e para sempre, a nossa ideia de segurança foi completamente alterada.
O que é feito dos códigos de honra das guerras antigas, onde apesar de haver civis como vítimas, havia guerreiros treinados, campos de batalha escolhidos, estratégias de guerra, matavam-se e esfolavam-se...havia vencedores e vencidos!!!
Actualmente os golpes baixos, são tantos, que a honra também ela deixou de ter valor...as mulheres e crianças são os alvos mais utilizados, os apoios de solidariedade são destruídos, até os jornalistas são alvos a abater, quando dantes seria uma forma de demonstrar ao mundo as duas partes da mesma história.
Temos assistido nos últimos anos a imagens tão, mas tão chocantes que a vida humana perde todo o seu sentido...
As catástrofes naturais, são terríveis, mas nada se compara à maldade e ódio que existe no coração dos Homens!
Gostei muito do teu texto...nota-se a tal desilusão, que passou a fazer parte de todos nós, em relação ao Mundo.

P.S: Nem precisas de pôr foto, todos nós já vimos demais...

João Barbosa disse...

Lu: este texto tem a ver com outro registo meu, não com outro estilo... mas achei que nos cinco anos do 11 de setembro devia colocá-lo aqui. beijo

Anónimo disse...

Lembro-me bem que não tinhas ainda tema para esse dia... até que... infelizmente. Escrito a quente, mas muito bem escrito, como sempre. Grande beijo.