digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

quarta-feira, setembro 13, 2006

A minha mulher

Há tempos que não te vejo ler. Na última vez cruzavas os olhos nas linhas e misturavas-te nas palavras, diluias-te no enredo e assumias as cores da prosa e a luminusidade deixada entrar pela janela. Gosto de te ver na quietude dos dias das primeiras águas, ainda que o teu gato não te salte para o colo. O fumo incomoda-me menos à vista e aos pulmões do que ao olfato, mas alegra-me a memória por ter-te sorrindo nas manhãs e tardes de cigarro na mão, concentrada em livros ou dispersa em afectos descomprometidos. Encontrei, não há muitos dias, um retrato teu em que sorrias numa nuvem de fumo com um livro pequenino a cair-te dos dedos: és tu! És mesmo tu em todos os teus dias, em todas as lembranças, desejos, prazeres e cumplicidades. Hoje não passo sem te dar um beijo e pedir que poses lendo para mim.

3 comentários:

as velas ardem ate ao fim disse...

Lindo!

Anónimo disse...

Fabuloso...deixa-me que te pergunte, para quando um livrinho para a malta?
Apetecia-me tanto continuar a ler, quando cheguei ao fim deste pequeno texto!

perdida em Faro disse...

João BArbosa...não te quero chatear e nem confundo realidade com ficção mas acreditas que a imagemimediata que me veio à cabeça foi a de Sophia a escrever e a fumar...gosto tanto dos textos dela...e gostei muito do teu.
Obrigado pelo quadro mental que me proporcionaste.