Hoje é quarta-feira e não há feira da ladra. Hoje não vendo emoções em segunda mão nem as minhas bandidices ronfeiras. Amanhã já é quinta e faltará um passo para sábado. Se acordar cedo irei dispor pela calçada as intimidades que não me servem e outras que finjo terem menos precisão.
Nos murmúrios das madrugadas, entre cafés e galões da manhã e imperiais pela tarde regateio e baixo os preços das minhas inutilidades que podem servir a alguém ou compadecer generosidades. Se não as vender voltarei noutro dia com o preço inicial posto a fingir.
As minhas quarta-feiras são tristes e de vazio, são um rosário de relembrar e uma espera para nova esperança. Este meio caminho é um sítio nenhum onde não gosto de estar. Sinto a ausência do ruído do mercado e a falta do trato. Deito-me à espera e espero apenas que passe. Ainda assim, não desgosto das quarta-feiras. Não faço nada nelas.
1 comentário:
Lindo e eu a ouvir Sérgio Godinho..muito bom.
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