digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

terça-feira, agosto 22, 2006

Parafuso

Tenho um metal cravado no dorso, porque me fiz com o peito à batalha. Entre os jorros de sangue e os troares das bombardas, avancei a gritar, engolindo pólvora, palavras e pedaços de outros homens. Não me sinto culpado por matar, sinto-me culpado por estar ferido e por me ver neste desassossego.
Tenho metal a furar-me lentamente os pulmões e vou morrendo todos os dias com memórias de um só dia. Quem me dera estar agora nos braços da mulher que amei - nos braços da única mulher que amei - e confessar-lhe o amor que nunca confessei. Quem me dera morrer-lhe nos braços ainda que lhe sujasse de sangue as roupas e me toldasse o olhar de emoção.
O tempo não volta e a vida já foi, passou-me paralela, vi-a a meu lado. Vi passar a vida sem medo de perde-la e fiz-me à batalha de peito para a frente. Tenho agora despojos de um só dia e saudades de muitas noites. Sou o resto dum homem e vivo a sombra dum amor. Se pudesse vivia o amor que desperdicei e arrancava da carne os pedaços de metal que a cravejam. Se pudesse...

1 comentário:

Anónimo disse...

Muito, muito bom! Já não sei q diga, para além de q escreves cada vez melhor ;)