digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

sábado, agosto 19, 2006

Cabeça

Tenho uma pedra que levo para todo o lado para descansar a cabeça. À cabeça, deixo-a em toda a parte. E em toda a parte tento estar em felicidade, mas sem o conseguir na maioria das vezes.
Quase nunca tenho Sol e a sombra persegue-me e antecipa-me. Tenho uma pedra que me serve de almofada e a quem confesso o que já sabe sobre mim. Está em toda a parte e só não se confunde com o meu coração, porque já não o tenho.
Sento-me à sombra, à minha sombra, na que me persegue e me antecipa, e fumo cigarros de tédio e ansiedade. Não fumo sem ser por medo. Tenho uma pedra onde me encosto e onde não tenho Sol. Quase nunca tenho Sol, mas tento estar em felicidade onde estou.
Não sei do que é feita a minha pedra, mas sei do que não é feita. Não é de paciência nem de compreensão. É insensível e surda como todas as pedras, por isso confesso-lhe tudo. Está onde estou e onde está a minha sombra, a que me persegue e se me antecipa.
Não tenho Sol, tenho sombra e uma pedra. Não sei se gosto. Mas tento sorrir. Em vão. Não me importo. Não ter Sol é já ter alguma coisa. E a sombra é um hábito como outro, como o de fumar. E quanto a este nada há a fazer, estou resignado com a sombra.

1 comentário:

Anónimo disse...

Pode ficar tranquilo que quando não tiveres mais coração você nem vai saber que partiste.