digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

terça-feira, julho 04, 2006

Um medinho pavoroso

É mais do que receio, tenho medo que um dia a imaginação se esgote e não saiba o que escrever ou desenhar ou cozinhar ou fantasiar. Tenho medo de deixar de ser menino e de brincar. Quando deixar de usar calções dentro de mim deixarei de criar; deixarei de viver tal como me conheço e como sei.
Tenho um medinho pavoroso de que sequem as ideias. Por isso escrevo todos os dias, para ginasticar a mente e praticar as fantasias. Acredito que nada se faz sem esforço e nada nasce do acaso. Todos os dias ajoelho-me devoto e escrevo para mim. Partilho por vaidade e vontade de auscultar a crítica. Ninguém cria inguenuamente nem impunemente! O blog é o meu ginásio.
O blog é o meu ginásio e tenho medo de ficar com as ideias gordas e tão formatadas às da banalidade que nele queimo tédios, ócios, ideias, solidões, fantasias, crueldades, mentiras, verdades, fantasmas, feitiços, dramas, traumas e outras calorias.
Não me conheço sem ser a criar e talvez não passe um minuto em que não me desligue da existência. Despisto-me da vida e tantas vezes deixo ligadas apenas as funções vitais e as tarefas banais. Saio de casa e chego ao trabalho e não fiz o caminho, simplesmente chego. Entre os dois pontos estive fora de mim em invenção, respirando e conduzindo. Sobre mim disseram todos os professores:
- O João tem sempre a cabeça na Lua!
As minhas ideias contorcem-se e saem de muitas maneiras e o próprio corpo é capaz de se expressar de formas esdrúxulas, que aparentam loucura. Não me importo! Não quero saber como me vêem! Há muito que deixei de tentar ser oftalmologista, até porque descobri que muita miopia é uma doença do foro psiquiátrico. Vejam-me como quiserem... A minha cabeça é um remoínho de ideias, um caos de cores, uma indigestão de conceitos, uma tempestade de ternuras, uma guerra de disparates, um festival de alegria, uma feira de depressões, uma tenda de mistérios e muitas pedras de vários outros templos e castelos. Sou um vendaval de sentimentos, de flores, de granadas incendiárias, de amuos, de beijos, de violências destrutivas, de provocações, de amores desvairados, de perfume amador e tantas outras contradições.
Tenho um medinho pavoroso que um dia seque o lago onde nascem as ideias e a vontade de escrever. Por isso pratico todos os dias. Todos os dias são dia de trabalho. O Infotocopiavel não é um passa-tempo é um trabalho, é o meu ginásio; não dos dedos, mas das ideias. Tenho um medinho pavoroso!

14 comentários:

Folha de alface disse...

engraçado, por vezes tb me dá a "travadinha" e penso: não sei o q vou escrever hoje, n escrevo e dp passa-me, logo no momento ou dia a seguir me vem um ideia à cabeça. tb n consigo estar sem criar, imaginar, escrever, é um vício.
gosto mt d te ver "ginasticar", sério, dava-te medalha d ouro no campeonato da ginástica das palavras :)

João Barbosa disse...

:-) és um doce!

Anónimo disse...

Conheço este sentimento. Por vezes sinto ganas de me isolar, só para que a minha imaginação e o meu espírito não se dissolvam no meio de tantos outros. Mas não menos vezes me interrogo: será que aquilo que "tememos" não é constatar que afinal somos apenas 1 entre 6 biliões? Teremos nós medo de encarar o facto de que somos iguais a todos os outros? Não sei. Mas a verdade é que todo este esforço para preservar aquilo que nos pode tornar "especiais" ou "diferentes" perece indicar isso.

Anónimo disse...

ei, dei um passeio pelo seu blog e fico grata pela dica que o amor muitas vezes existe só na cabeça, feito de fantasias! Era isso que precisavas ouvir! Um beijo da Maça

mena disse...

e como consegues essa disciplina diária? imagino que seja mais fácil do que ir ao holmes place, onde ando há meses a pagar sem lá por os pés, mas há-de ter uma receita qualquer...

João Barbosa disse...

Olá Incógnita, penso que cada um tem o seu método e o seu corpo. cada um tem o seu modo de estar. Não tenho medo de ser apenas um entre seis mil milhões, tenho é medo de não ter nada para dizer.

Olá Maça, obrigado pela visita, espero poder sempre contar contigo por aqui. Por mim, a fantasia tem de estar em tudo...

Olá Tango & Valsa... também «ando» num ginásio onde falto mais do que vou... que vergonha! Sabes, acho que tudo se consegue querendo. Se não vou muitas vezes ao ginásio e tu ao Holmes Place é porque, realmente, não queremos muito. Porque, se quisessemos, íamos... é tão simples que até parece disparatado. Quanto a esta ginástica: tenho sempre folgas para pensar, momentos de ócio, depois todos os dias me sento frente ao computador e há momentos em que o trabalho se afasta como uma maré baixa, aproveito para blogar. É assim que faço esta ginástica.

moonlover disse...

afinal este medo não corro o risco de ter, mas receio por ti e por mim, que te falte algum dia a inspiração (o que acho mt dificil!)nesse dia vou ter uma ressaca porque viciei-me nas tuas crónicas!

Anónimo disse...

Que texto fantástico... Tenho a certeza que nunca vais deixar de usar calções dentro de ti. Um beijo enorme :)

fee disse...

Muito imaginativo, sim senhor:)Gostei imenso do primeiro texto que li por aqui, por isso acho que vou ficar visita assídua!
Escrever aqui é bom para tudo isso que disseste e ainda para conhecer pessoas, ou estou enganada??
beijinho*

Anónimo disse...

Duvido que com a tua mente fértil e com os teus calções de menino, alguma vez te falte palavras, sentimentos e disparates para escreveres. Não tenhas receio, estás cada vez melhor. Beijos Gi

Anónimo disse...

Este teu amigo tem mesmo um dom…cada texto escrito é música para o nosso cérebro...sempre magníficos...e as imagens idem ... brilhante....assim de certeza nunca se lhe vai acabar a imaginação...um maestro de palavras....: )

Dora

João Barbosa disse...

ai! além dos calções de menino vou teer de usar um babete! estou babado! vocês fazem-me corar!
beijinhos e abracinhos

perdida em Faro disse...

É um medo comum. Praticamos e exercitamos. Gosto muito dos teus textos e mesmo sem te conhecer ganhei uma relação com o teu blogue pela sua (tua) humanidade. Mesmo que fiques sem imaginação e mesmo que escrevas sobre algo repetido, a tua capacidade de escrita jamais se perderá. Podes perder o medo. Podes até perder faculdades mesntais, mas por favor, não deixes de sentir!
Gosto de ti assim, humano e escrito.

João Barbosa disse...

A Tânia é uma kiiiiiiiiiiiida!