Há qualquer coisa que toca quando sobe ou desce a bandeira e o hino soa. Ver subir a flâmula e escutar o arrumo das notas em significado pátrio quando o atleta do país sobe ao pódio levanta o nível da água acima do bordo dos olhos. É tonto, mas é assim. Os povos comovem-se ao reverem-se em alguns homens e mulheres especiais: desportistas, músicos, escritores, artistas plásticos, pensadores e até políticos.
Não escrevo isto para justificar o que possa fazer logo após o jogo de Portugal contra a França. Não sei quais serão as minhas emoções quer o meu país ganhe ou perca, sendo que não deverão ser muito diferentes das de muita gente, embora pouco embarque em futebóis e menos ainda em manifestações algazarreiras. Escrevo isto por causa de Goa e da sua comida. Escrevo por causa da minha pátria.
Escrevo por causa da minha Pátria. Não escrevo por causa da minha nacionalidade. Não nego que me comovi quando vi descer a bandeira da República Portuguesa em Macau, em 1999. Foi o fim do Império, o primeiro que a Europa criou além das suas fronteiras e o último a ser derrubado. Estas palavras comovidas não são de orgulho, mas de simbolismo e não querem dourar os crimes do colonialismo. Emocionei-me com o descer da bandeira da República Portuguesa como me toca também quando a vejo subir orgulhosa enquanto uma medalha está pendurada ao pescoço dum atleta.
Escrevo por causa da minha Pátria. Não escrevo por causa da minha nacionalidade. Fernando Pessoa afirmou que a sua Pátria era a sua língua, a língua portuguesa. Hoje, quando se diz lusofonia talvez se deva abrir o peito às lusoculturas e que as línguas apreciem as comidas dos povos da língua portuguesa. Escrevo por causa de Goa e da gente simpática de lá que tenho conhecido por cá.
Portugal entrou armado em Goa em 1510 e saiu derrubado em 1961, sem brilho, sem glória, quando por cá mandava uma hedionda tirania. Os laços entre este rectângulo europeu com ilhas penduradas e os seus antigos territórios indianos de Goa, Dão e Diu, e com outras terras da Índia, são mais densos do que duas datas e tempo nenhum há-de apagar se os homens quiserem e tiverem inteligência de manter.
Escrevo por causa da minha Pátria. Não escrevo por causa da minha nacionalidade. Jantei anteontem e ontem em dois restaurantes goeses, em Lisboa, e fico feliz por a minha Pátria ficar mais rica com o valor que trazem os goeses à diversidade da cidade e à mistura das culturas.
E porque a amizade, tal como o amor, é feita de reciprocidade, tanto nos deram eles enfeites como nós lhes oferecemos adornos. Deliro e insisto em provar sempre o choriço à goesa... e no Alentejo deleito-me no sarapatel ou na cabeça de xara. Escrevo por causa da minha Pátria. Não escrevo por causa da minha nacionalidade. A minha pátria não é só a minha língua e muito menos acaba na bandeira, no hino ou na fronteira. A minha Pátria está onde existe uma amizade ou algo que me ligue a uma outra pessoa. A portugalidade, a lusofonia a cultura lusófona do mundo são um pretexto, uma aproximação, um tema de conversa. Escrevo isto, porque gosto da minha Pátria. A minha Pátria é o mundo, ainda que viva num rectângulo com ilhas penduradas, com uma bandeira e um hino.
6 comentários:
identifiquei-me totalmente c o último parágrafo :)
:-)
Sem dúvida, somos um povo pouco Patriota e temos tantos motivos, muito para além das razões futebolisticas, para evidenciar esse sentimento!
Ainda há pouco li o livro: "Sou português...e agora?" do Luis Filipe Borges (vulgo gajo da boina), que me deliciou...é uma caricatura perfeita na nossa gente, dos nossos hábitos, tal e qual, há uns anitos o MEC fez no livro: "A causa das coisas", só entende quem sabe rir de si próprio e na maioria dos casos é muito saudável :)
"A minha pátria é a língua portuguesa" , Fernando Pessoa. Bandeiras e hinos? Não obrigada...
Bolas, consegues sempre surpreender-me! :))
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