Vivo no meio do fumo dos meus pensamentos. São tantos que tenho de queimar alguns. Muitos fervem outros são pestilentos e alguns aproveitam-se. As ideias estão guardadas dentro da cabeça e o seu fumo, quando libertado, solta-se como palavras, risco, imagem fotográfica ou cozinhado. Se acontece aspereza não vem como fumo, mas na substância doutras matérias.
Vivo no meio do fumo dos cigarros dos outros. Chamam-me mau porque quero ter a minha judiaria de ar livre. Ainda assim invadem-me o curto rectângulo com qualquer pretexto mínimo e escusa minúscula, porque é rápida e passageira a passagem, ignorando deliberadamente que fica o fumo, o hálito, a presença e a indisposição. Chamam-me mau porque defendo-me da agressão no meu canto do refúgio.
Vivo no meio do fumo das preguiças transportadas nos carros e nas riquezas simples e quotidianas do Ocidente e do hemisfério Norte. Encosto-me na maioria e fujo para dentro da multidão onde buzino. Atesto o depósito e vou depressa ou quase quieto ajudar a encher o ar de fumo.
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