Há uma parte do céu que não é azul, mas negra. O negro serve para adormecer os pássaros e arrefecer os dias. Sem o negro não haveria estrelas e sem elas não teríamos com que entreter o olhar nas noites de tédio.
Há uma parte do céu que não é azul, mas violácea. Será do luto a cor? Será. É a do dia a despedir-se. Será do luto a cor? Será. É a da noite a partir. Sem ela não haveria brisas frescas primaveris.
Há uma parte do céu que não é azul, mas laranja. É agonia em promessa de calores suaves de amanhãs claros, não é uma morte, mas um adormecimento lento, como um beijo suspenso, em que os olhos fecham-se ao tocar dos lábios para quando se reabrirem ao afastar das bocas já a cor seja outra.
Há uma parte do céu que não é azul, mas amarela. Na terra faria verde ao juntar-se ao azul, no céu quer-se coisa diferente. Faz de prenúncio de noite quando o estio ainda aperta a pele e seca a garganta. Fica o firmamento uma aguarela a desbotar-se clarinha.
Há uma parte do céu que não é azul, mas vermelha. Ninguém duvida da força irada do amanhã. Se hoje se suou, amanhã não o fará menos. Que temperamento belo e assustador, em que parece um rasgão enorme na flanela celestial. Se houver estrelas madrugadoras há uma gargalhada pelo desconcerto.
Há uma parte do céu que não é azul, mas rosa. São momentos de desmaio, depois de brutais tempestades de saraiva e trovão. Por trás do azul é bem possível que o céu seja rosa. Se ele, de facto, se rompe é de rosa que se mostra, tão esgota e frágil.
O meu céu faz-se de todas estas cores. Não minto se disser que prefiro o azul. Mas qual azul? Há tantos azuis no céu... e quando muda a cor, não há cor que não lhe fique bem. Não me canso de olhar o céu.
2 comentários:
"Não me canso de olhar o céu"...nem eu, é lindo e fica bem de todas as cores.
Só tu para descreveres o céu desta maneira... Deliciei-me.
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