Tenho um amigo em Paris que anda em filosofias. Ele já me disse o que anda lá a fazer, mas a minha cabeça pequenina nunca conseguiu perceber nem memorizar. Um dia será doutor, por extenso. Um homem sábio.
O meu amigo de Paris também tem defeitos. Mas o que interessam os defeitos dos amigos? Os amigos são quase perfeitos. Gosto muito do meu amigo sábio. Ele fala bem e tem um ar petulante que deve irritar muito os franceses. Um sábio português em Paris e ainda por cima novo, bonito e galante.
O meu amigo de Paris tem uma grande virtude: é muito amigo dos seus amigos e envaidece-se com eles. Partilha as vitórias e comove-se com as derrotas. Para que interessam os defeitos dos amigos se eles têm virtudes? Aposto um vintém como o meu amigo sábio me vai explicar, com palavras pequeninas e frases simples, estas minhas contemplações. O homem é filósofo e vai ser doutor.
Está tão crescido, o meu amigo de Paris. Está a ficar grisalho. O esbranquiçar do cabelo torna-o mais imponente. É leão, o canalha amigo. Patifório que te partiste para tão longe. É já aqui ao lado, à distância de um saltinho de uns poucos de euros e de horas. Hei-de ir nem que seja para descer os Campos Elísios de braço-dado com um doutor.
O meu amigo doutor vive numa casa pequenina, mais pequena do que a minha primeira casa. Tem um quinto da área do meu canto. É doutor e basta-lhe tão pouco para estar na rive gauche. É sábio. Sabe o que faz. Outro dia fez-me um petisco com restos de comida que tinha no frigorífico. Empanturrei-me e fiquei maluco. Está um homem!
Está decidido: amanhã vou cortar o cabelo! Enquanto não chega amanhã escrevo sobre o amigo! Quando falamos não sei se estamos de acordo, porque tenho uma cabeça pequenina e ele umas orelhas muito grandes. Mesmo assim oiço-o sobre a vida, a sociedade e as mulheres... e os seus encantos. Quer isto dizer, sobre os encantos encantadores... os recantos encantados... as artes e as artimanhas. É um sábio, o meu amigo filósofo. Mas na vida nem sempre a sabedoria vale. Um sábio também dá cabeçadas e um homem com aquele cabelo tão bonito às vezes é tosquiado. Não me posso esquecer que me decidi a ir cortar o cabelo.
O meu amigo de Paris tem uma sina. Às vezes parece que as palmas das mãos dele não são muito diferentes das minhas. Só que eu tenho uma cabeça pequenina e ele é sábio.
2 comentários:
Caro Barbie,
Só agora cheguei a Chaves e vi os teus blogs. Os meus parabéns, grande produção literária e belíssima escolha iconográfica! Junto-me ao coro da tua legião de fans (li também os comentários).
Um grande abraço e até breve, de preferência em incursões gastro-etílicas (e, claro está, femeeiras) pela capital.
Grande, enorme amigo. Adoro-te
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