Gosto de me lembrar de ti descalça. Lembro-me de ti descalça no soalho de madeira corrida, mas nunca de tal maneira te vi. É assim que te vejo quando penso em ti da forma mais terna, porque a madeira de tábua corrida é quente, afável e familiar. Para mim é. A casa dos meus pais tem soalho de madeira corrida.
Acho que em miúda podias ter brincado comigo numa casa com chão de tijoleira rústica e feito amor numa outra com chão de tábua corrida. Por mim, deitava-me contigo numa seara ou na areia da praia. Não teria problema em encher-me de natureza a fazer amor contigo. Acho que os teus pés fundem-se com as texturas simples. Se os teus pés o fazem, toda tu o fazes também.
Gosto quando te olho bem nos olhos e vejo-te toda. Não és diferente dos teus pés nus no chão de soalho de madeira onde nunca os vi. Os teus abraços são simples, mas doces e profundos. São aquáticos. Os teus abraços não têm cheiro, Nem cor. Nem sabor. Gosto dos teus abraços, porque são despojados, porque matam a sede.
Para mim tu és terna, amiga e familiar. Como as tábuas corridas que quentes seguram os teus pés nus, que nunca vi de tal modo. Vi-os na praia, entre a areia. É quase, mas não é o mesmo. Quando me lembro ternamente de ti, lembro-me descalça em soalho corrido.
Gosto muito de ti descalça e faria amor contigo hoje numa casa vazia, desde que ao abrires-me a porta estivesses descalça e o chão fosse de madeira. Não precisaria dum sorriso ou de ouvir a tua voz serena. Eu podia ir até cabisbaixo para que os meus olhos não se encontrassem com os teus. Fazia amor contigo hoje, agora, já, se estivesses descalça em chão de tábua corrida. Como nunca te vi.
1 comentário:
:))) É na simplicidade que (re)descobrimos o que nos faz palpitar. Quer dizer, comigo é assim. Beijo grande :)
Enviar um comentário