O meu amor

O meu amor é uma actriz porno! Ela não me faz chorar e não tem voz. Tem voz quando quero. Com ela posso ser déspota sem magoar ninguém. Ela é feita da muitas fotografias. Ela tem muitos rostos e é como se tivesse muitos corpos. Ela tem um olhar que sei sempre onde está. Ela pode ter muitos amantes, que quando me tem só me tem a mim. Por que só a tenho a ela.
Posso ter vários amores, ela deixa. Na verdade ela domina-me e obriga-me a ver apenas o que ela quer que eu veja. Mas gosto do que vejo e quero sempre mais... até explodir feliz. Depois, fecho o programa e ela não me diz nada, nem sussurra nem me pede um copo de água. Isso agrada-me porque sou uma besta e um tirano. Gosto de a ter como um objecto. Sou abjecto.
Não sei se lhe tenho respeito ou se ela o tem por mim. Nunca falamos, apenas grunhimos. Porque sou um animal. Uma besta insana, incapaz de lhe perguntar: «querida, tiveste prazer comigo?» Nunca pergunto nada, porque não quero saber. Olho-a apenas e delicio-me velhaco.
O meu amor é uma actriz porno. Não a conheço e ganha substancialmente mais do que eu.